Por Meire Nocito (*)

Como limitar o uso de dispositivos móveis em escolas pode favorecer o aprendizado e a convivência social dos alunos

A discussão sobre o papel da tecnologia nas escolas tem se intensificado nos últimos anos. Não é para menos. A escola como espaço educativo precisa envolver a todos nesse processo de conscientização do não uso do celular e da utilização consciente das ferramentas digitais. A restrição ao uso de celulares nas escolas é um passo que pode potencializar as interações sociais, promover momentos de descontração e entretenimento nos intervalos e melhorar significativamente a atenção, a concentração e o desempenho escolar dos alunos.

Tendo como referencial teórico diversos estudos que correlacionam o uso de celulares a prejuízos na atenção, na concentração e no desempenho acadêmico, restringimos a utilização desses dispositivos eletrônicos no Ensino Fundamental e Ensino Médio. Fornecemos armários individuais com fonte de energia para que os alunos guardem seus aparelhos durante as aulas, reduzindo os estímulos distratores decorrentes do uso dos celulares nos ambientes pedagógicos. Essa prática garante que a tecnologia seja uma aliada, não uma fonte de distração.

Outra iniciativa é o Porto Disconnect, projeto que desenvolvemos nos intervalos, envolvendo todas as séries, e que se tornou uma peça-chave para consolidar essa cultura de desconexão. Com base em sugestões dos próprios estudantes, esse programa inclui atividades lúdicas e jogos cooperativos, que são oferecidos aos alunos do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. O objetivo é claro: promover espaços de lazer e interação social entre os estudantes e proporcionar um convívio saudável, com o desenvolvimento de habilidades como empatia, autorregulação das emoções e responsabilidade com o bem comum, preparando nossas crianças e jovens para os desafios da vida em sociedade.

Uma pesquisa interna realizada no segundo semestre de 2024 com alunos do Ensino Fundamental II mostrou que 72,5% dos estudantes já participam ativamente dos intervalos off-line. Essa prática tem promovido momentos de interação e fortalecimento de vínculos, possibilitando um ambiente mais harmonioso e propício à convivência social. A redução do uso de celulares incentivou atividades culturais e recreativas, que impactaram positivamente o bem-estar e a promoção de saúde mental dos alunos.

A restrição do uso de celulares nas escolas não descaracteriza a necessidade de os estudantes saberem utilizar as ferramentas digitais em um mundo onde a tecnologia é fundamental. Pelo contrário, busca preparar as novas gerações para um uso equilibrado e responsável das mídias digitais. A parceria entre família e escola também é essencial para fortalecer essa iniciativa e ensinar às crianças e aos jovens que a autonomia, a postura ética e a gestão do tempo no uso das mídias digitais são competências valiosas em qualquer ambiente no qual eles estejam inseridos.


(*) É especialista em psicologia da educação e Diretora Institucional Educacional do Colégio Visconde de Porto Seguro, onde lidera iniciativas que promovem a educação socioemocional, com foco no desenvolvimento integral dos alunos.


Foto: Colégio Visconde de Porto Seguro