GILFRANCISCO é jornalista, pesquisador, escritor e Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Sergipe. Membro do Grupo Plena/CNPq/UFS e do CPCIR/CNPq/UFS. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
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Conheci os irmãos Pedro Moacir Maia (1929-2008) e Carlos Vasconcelos Maia (1923-1988), figuras de proa, um homem de ação, consciente dos problemas sociais e capaz de enfrentar aquela iniciativa na liderança do grupo de Caderno da Bahia. O encontro quase que simultaneamente no ano de 1976, quando Carlito ingressara na Academia de Letras da Bahia, assumindo a cadeira de número 14. Fiz camaradagem com ambos que logo se tornou em amizade. Conversávamos muito sobre literatura, principalmente dos anos 40, foi quando cheguei ao Caderno da Bahia. Se na época era difícil encontrar algum exemplar, imaginem hoje. Nos anos 70/80, eu sabia apenas de quatro pessoas que tinham a coleção completa: Renato Berbert de Castro, Erthos Albino de Souza, Pedro Moacir (tinha mais de uma coleção, chegando a ofertar a coleção ao professor Fernando da Rocha Peres) e Carlos Eduardo da Rocha. Na época, eu estava envolvido em várias pesquisas; Pedro Kilkerry e Sosigenes Costa, além das encomendas solicitadas por Hildegardes Vianna, James Amado e Wilson Lins. 1
A conversa com Vasconcelos Maia era agradabilíssima, doce, plácida, um homem de vários entendimentos. Íamos da literatura baiana aos cabarés, ao Cacique, ao Tabaris. O interessante era que a conversa ocorria sempre nos dias das reuniões ou nos lançamentos de livros na Academia de Letras. As vezes éramos interrompido poeta Carlos Cunha, que chegava para participar do aprendizado. Foi Vasconcelos Maia quem levou para a Academia as baianas com seus quitutes nos dias de lançamentos. Elas fizeram sucesso e dessa forma conseguiram muitas encomendas das madames. Conheci o Forte do Mar (Forte São Marcelo) por intermédio de Vasconcelos, numa bela tarde em que almoçamos em um dos seus restaurantes. 2
Como estava pesquisando o poeta Kilkerry, para as festividades do seu centenário de nascimento, que ocorreria em 1985, fui convidado pelo bibliófilo Pedro Moacir para ir até o seu apartamento, localizado no bairro da Graça. Na verdade, não era uma visita a um apartamento, mas em dois, um era dedicado inteiramente aos livros. Foi nessa primeira e única visita ao seu domicílio, que pude ver e folhear os exemplares do Caderno da Bahia.
Chegada da Boneca
Segundo depoimento do contista Carlos Vasconcelos Maia que era natural de Santa Inês (BA), nos informa que:
Foi Claudio quem me procurou já com a “boneca” do 1º número de Caderno da Bahia nas mãos, me sugerindo a sua publicação regular e comigo tratando de sua orientação, colaboradores e o mais que normalmente se segue.
A publicação do Caderno da Bahia, que inicia em agosto de 1948, inaugura uma nova fase na vida literária baiana. Literatura e arte ganham, a partir de então, espaço próprio. Teve papel fundamental na difusão e promoção de ideias modernista. Caderno da Bahia, marca a segunda geração de modernistas baianos de diversas áreas das artes, condenando o excesso de academicismo, pregavam renovação-estética e difundiam a liberdade de criação.
De vida curta como quase todas as seguintes, mas de fundamental importância para semear e difundir as ideias do grupo pós-modernista. Imbuídos das novas teorias e desejosos de disciplinar o caos modernista que ainda fazia, os jovens post-modernistas ergueram como signos a valorização da palavra e do verso, a universalidade contra a predominância do regionalismo. A “geração de 45”, por exemplo, não são nascidos em 45, mas os editados por volta de 1945, e eram todos novíssimos em seu tempo. Um dos poetas expoentes dessa geração é o alagoano Ledo Ivo (1924-2022).
No período que se inicia por volta de 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, verificou-se, pelos Estados, um surto de publicações de revistas, que divulgaram manifestações literárias diversas:
Clã (Fortaleza); Revista Branca (Rio de Janeiro); Edifício (Belo Horizonte) quinzenário; Anhembi (São Paulo); Sul (Florianópolis) mensário; Joaquim (Curitiba); Província de São Pedro (Porto Alegre) trimestral; Orfeu (Rio de Janeiro); Evolução (Bahia), 1944; Alvorada (Bahia), 1947; Dois de Julho (Bahia), 1948, Caderno da Bahia, 1948; Ângulo (Bahia); Mapa (Bahia); Noigrandes (São Paulo) 1952; Tendência (Minas Gerais),1957; Cronos; Paralelos; Agora; Invenção (São Paulo) 1962; Praxis (São Paulo), 1962; Ponto (Rio de Janeiro), 1967; Etapa (Pirapora), 1968; Processo (Rio de Janeiro), 1969. Nos anos setenta foi a vez de Código (Bahia), Polém, Ficção, Escrita, José, Anima (Rio) O Saco (Fortaleza); Almanaque Biotônico Fontoura e outras
Revolução na Bahia
Esse é o título do artigo em quatro páginas, assinado pelo pernambucano Odorico Tavares, ilustrado pelas fotos do francês Pierre Verger, publicado na edição de julho de 1951, no semanário O Cruzeiro:
O movimento que renovou as artes plásticas brasileiras, dando-lhes força e prestigio até então desconhecidos, chegou tarde à Bahia. Em 1944, já há vinte e dois anos da Semana de Arte Moderna, um grupo de intelectuais desejou fazer uma mostra de pintura contemporânea, pela primeira vez na capital baiana. Tomaram-se alguns quadros emprestados a colecionadores, conseguiram-se desenhos e gravuras de artistas paulistas e, na Biblioteca Pública expuseram-se pela primeira vez trabalhos de Cicero Dias, Pancetti, Manuel Martins, Lívio Abramo, e alguns mais. A exposição foi concorrida, mas sofreu tremenda reação. “Aquilo era demais”, um jornalista, no dia seguinte, no saguão do Palace Hotel, fez uma “contra exposição. Arranjou papel, tela e tinta e, com meia dúzia de amigos rabiscou quadros “modernos” para mostrar que “aquilo” qualquer um poderia fazer. O público divertiu-se e ficou mais confuso ainda a respeito de arte. Mas confuso e, portanto, mais atrasado. Até que, em 1947, estando o Sr. Otávio Mangabeira no governo, Anisio Teixeira na Secretaria de Educação e o crítico José Valadares na direção do Museu do Estado, o escritor Marques Rebelo trouxe à Bahia uma exposição de arte moderna. (…)
Continua.
(…) Carlos Bastos trouxe telas e uma infinidade de desenhos capazes de revelar um artista que ninguém até então suspeitava. Enquanto isso, outro jovem Genaro Carvalho, usufruía uma glória local, pintando e vendendo caro quadros de orientação acadêmica. A vinda dos dois jovens artistas coincidiu com o interesse do Governo em trazer à Bahia todo artista que se interessasse pela nossa terra. Não somente artistas como escritores. Conferências se sucediam, cursos sobre artes plásticas. Um grupo se formou e fundou uma revista renovadora “Caderno da Bahia”. Os suplementos dos jornais tendo o “Diário de Notícias” à frente, começaram a criar um máximo interesses pelas artes plásticas. Outros pintores baianos foram surgindo e todos rejeitando desde o primeiro instante qualquer influência acadêmica: Jenner Augusto, Ligia Sampaio, Rubem Valentim, Pascoal Magnavita. 3
Anjo Azul
O Anjo Azul ficava na rua do Cabeça nº 34 (seguindo a caminho do Largo 2 de julho), quase em frente à casa nº 13, em que morou o poeta simbolista Pedro Kilkerry (1885-1917). O bar e galeria estava localizado numa transversal da rua Carlos Gomes, era o símbolo da boemia do grupo do Caderno da Bahia. Foi no Anjo Azul que se realizou o I Leilão de Arte, com originais remetidos por Portinari, Di Cavalcanti, Pancetti, Milton da Costa, Djanira e outros, tendo como leiloeiro o crítico Mário Barata. Coube a responsabilidade deste acontecimento marcante ao grupo Caderno da Bahia. Segundo Luiz Henrique Dias Tavares, um dos colaboradores da agremiação cultural, nos revela:
O Anjo Azul foi uma ideia de Carlos Bastos. Uma ideia quase que exclusivamente de Carlos Bastos. Mas teve o apoio de Vasconcelos Maia. Teve o apoio de Wilson Rocha. Tendo o apoio de Wilson Rocha, teve o apoio de Carlos Eduardo da Rocha. Wilson, como eu lhe disse, era um poeta extraordinário, mas ele não tinha dez centavos. Não podia trabalhar em coisa alguma. Ele era alguém que estava incapacitado para estas coisas. Ele era alguém que estava para aparecer, para namorar, para conversar, de modo que quando Carlos Bastos apareceu com essa novidade do Anjo Azul… Uma pintura dele, foi ele quem fez o Anjo Azul. Todos nós andamos por lá. Uns mais outros menos. Eu se fui duas vezes lá, foi muito, porque ainda estava muito costurado ao Partido Comunista e nas minhas atividades no Partido Comunista. 4
Odorico Tavares, em reportagem exclusiva para O Cruzeiro, nos conta um pouco sobre a criação do Anjo Azul:
Carlos Bastos em parceria com um jovem de bom gosto, que é antiquário, José Pedreira, descobre pequena casa que era depósito de sementes, aluga-a e instala um bar: o Anjo Azul. Decora todas as paredes com belos murais, mobília a casa com móveis antigos, pinta cerâmica, e torna o ambiente o mais agradável do gênero em todo o Brasil, conforme acentuou o pintor Carlos Thiré. 5
Caderno da Bahia
Foram publicados 6 números da revista, entre agosto de 1948 a setembro de 1951, dirigida por Vasconcelos Maia (1923-1988), Claudio Tuiuti Tavares (1922), Wilson Rocha (1921-2005) e Darwin Brandão, jovens idealistas que se consolidaram como um grupo renovador. Os Cadernos tinham um formato de tabloide e variava entre 20 e 25 páginas, sendo impressos os primeiros números na Tipografia Beneditina, passando em seguida a serem impressos na Artes Gráficas, que possuía maquinários mais modernos. Em algumas de suas edições, alcançou tiragem de 1 mil exemplares.
O grupo da revista criou alguns departamentos, para facilitar a triagem dos assuntos das colaborações enviadas. Artes Plásticas, Mário Cravo Jr.; cinema, Walter da Silveira; música, Paulo Jatobá; teatro, Nelson Araújo (1926-1993); filosofia, Machado Neto (1930-1977); artes antigas baianas, Mota e Silva; fotografia, Leão Rozemberg e editorial, Pedro Moacir Maia (1929-2008).
Número –1, agosto de 1948, colaboram: Claudio Tuiuti Tavares, Nilo Pinto, Fran Martins, Paulo Jatobá, Vasconcelos Maia, Darwin Brandão. Wilson Rocha, poemas de Manuel Bandeira e reproduções de Aldo Bonadei e outros.
Número -2, outubro de 1948, colaboram: Heron de Alencar, Luiz Henrique Dias Tavares, Mota e Silva, Paulo Jatobá, Fernando Ferreira de Loanda, Sosigenes Costa, Adalmir da Cunha Miranda, ilustrações de Manuel Martins e Carlos Fredirich.
Número –3, janeiro de 1949, vejamos o Sumário: Fundamentos da Poesia Afro-Brasileira, Walter da Silveira; Literatura Proletária e outro, Otto Maria Carpeaux; Elegia a Jacques Roumain no Céu do Haiti, Nicolas Guillen (tradução de Manuel Bandeira); O Congresso de Wroclaw e a tarefa dos Escritores, Luiz Henrique Dias Tavares; Romance de Natal, Vasconcelos Maia; Bahia de ontem e de hoje, Darwin Brandão e Mota e Silva; Um poeta vítima do Regime Franquista, F. Kelin; Notas Folkolricas, Ruth Guimarães; Correspondência de Monteiro Lobato (a João Palm Neto); O habitante marítimo, Wilson Rocha; Largo dos Aflitos, Antônio dos Santos Moraes; O vento carrega o pesado fardo da fome, José Camilo de Jesus Lima; A Biblioteca, Maria José Passos; Música, Pedro Jatobá e Lorenzo Fernandez, N. R.; Seções de Livros, revistas, noticiário; Ilustrações de Portinari, Carlos Frederic Bastos, Hélio Vaz e Clóvis Gramacho. Ilustrações: Mário Cravo Jr.; Carlos Frederic Bastos; Ladislau Bartok, Genaro de Carvalho e Hélio Vaz.
Número – 4, agosto de 1949, colaboram: Jacinta Passos, Clovis Moura, Candido Azevedo, Eduardo Campos, Adalmir da Cunha Miranda, Edison Carneiro, e o poeta chileno Pablo Neruda.
Número – 5, abril de 1950, vejamos o Sumário: O segredo das ervas, Roger Bastide; Conflito Ideológico na Biologia, Wladimir Guimarães; Latifúndio Devorante, Eliardo Farias; III Congresso Brasileiro de Escritores; História de uma Noite de Sábado, conto de Luiz Henrique Dias; Artes Plásticas na Bahia, 1949, Wilson Rocha; poesias de Jacinta Passos; Sosígenes Costa; Aluízio Medeiros e Eduardo Sobral; História da Literatura Bahiana, Adalmir da Cunha Miranda; Aspectos Folclóricos: Cachaça, José Calasans; Predicamento de Cidade, Edgar de Cerqueira Falcão; História Estético-Musical da Bahia (conclusão), Paulo Jatobá; Cinema e Cultura, Walter da Silveira; Desenhos de Mário Cravo Jr.; Ligia Sampaio; Jenner Augusto; Picasso; Carlos Thiré; e gravura de Poty; Livros, revistas e notas várias.
Número – 6, setembro de 1951, depois de interrupção de mais de seis meses, voltou a circular a revista de cultura Caderno da Bahia, dirigida por Vasconcelos Maia, Wilson Rocha, Darwin Brandão e Claudio Tuiuti Tavares. Entre os colaboradores estão presentes: Alberto Cavalcanti, Adalmir da Cunha Miranda, Wilson Rocha, Clóvis Moura, José Pedreira, Raimundo Mesquita, Edna Savaget, Rodolfo Coelho Cavalcanti, além dos desenhos de Carybé e Jenner Augusto.
Houve um número Especial sobre a Sétima Arte, incluindo notáveis artigos sobre cinema, escritos por Vinicius de Moraes, Walter d Silveira, Alex Viany, Salvijano Cavalcanti de Paiva, José Olímpio, além de uma entrevista com o grande ensaísta brasileiro Alberto Cavalcanti.
Edições de Livros
Pássaro Sangue, Claudio Tuiuti Tavares, 1950 (Edição de Luxo). A publicação, estreia do poeta, apresentando um belo formato, com ilustrações de Aldo Bonadei, vem a marcar, presença de um poeta inspirado pelos largos temas coletivos, e que embora pernambucano de origem, integrou-se de há muito na vida e nas letras baianas. O livro reúne 31 poemas.
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Descobrimento, Carlos Eduardo da Rocha, 1950, só faz confirmar a vocação poética do autor, que já foi reconhecida até por um crítico da estatura intelectual de Álvaro Lins. O livro constitui uma das melhores edições feitas na Bahia, à época, uma excelente apresentação gráfica digna de referência. Tem capa e ilustrações de Carlos Bastos.
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Contos da Bahia, Vasconcelos Maia, 1951. Tendo estreado em 1946 com Força da Vida, seu novo livro, com magnificas ilustrações de Carlos Bastos é mais uma edição de Caderno da Bahia, revista de cultura e divulgação da “nova geração” baiana, que tanto sucesso obteve em todo o país. Vasconcelos Maia é um contista da cena urbana e marítima da Bahia. Cultivou o conto tradicional, com princípio, meio e fim. Maia é leitor e admirador de Xavier Marques, principalmente das suas histórias praieiras. É considerado para crítica como um dos melhores contistas baianos.
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Dominicais, José Valadares, 1951, prefácio de Eugênio Gomes, o livro é uma coletânea de 42 crônicas de arte. Ilustrado por Pancetti, Mario Cravo Junior, Poty e outros artistas plásticos. As crônicas se completam com as informações precisas sobre as atividades artísticas da Bahia, e exposições corretas de ideias sobre os problemas momentosos das artes plásticas. Diz o prefácio que “José Valadares é já autêntico mestre, denunciando em tudo o que escreve a solidez de conhecimento que só a cultura geral e a experiência direta de cada matéria podem assegurar de maneira completa”.
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O Tempo no Caminho, Wilson Rocha, 1951. Com tiragem de 500 exemplares e ilustrado por Aldo Bonadei. Data dessa época, seu início como crítico de artes do jornal A Tarde, convite feito pelo seu diretor, Ranulpho de Oliveira.
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Sombras do Meio-Dia, Rocha Filho, 1951, poeta, contista e médico de profissão era alagoano, teve seu livro prefaciado pelo crítico mineiro Carlos Chiacchio, que assinava um rodapé no jornal A Tarde. O jovem poeta é um nome que vem impondo no cenário da moderna poesia brasileira.
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Dois Aspectos da Sociologia do Nascimento, A. L. Machado Neto, 1952, prefácio de Nélson de Souza Sampaio. Reúne o volume dois ensaios intitulados “A Sociologia do Conhecimento em Marx” e “Karl Mannhein ou o ocaso do Pensamento”, em que o autor aborda temas correlatos, subordinados à sociologia do conhecimento. O prefaciador, afirma que esse seu trabalho, um magnifico ensaio de análise do assunto tratado.
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A Margem da Página, Adalmir Cunha de Miranda, 1952. Bastante conhecido por suas colaborações no Diário da Bahia e em Letras e Artes, seu livro vem confirmar a acuidade que possui a crítica literária. Enfeixa nesse livro, onze ensaios sobre temas literários, passando em revista a obra de escritores nacionais e estrangeiros: Sherwood Anderson; Virgil Gheorghiu; Xavier Marques; Alphonsus de Guimarães Filho; Paulo Dantas; Pinto Rodrigues e outros.
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O Romance de Tobias Barreto, Junout Silveira, 1953. Utilizando farta documentação, inclusive fatos desconhecidos, depoimentos e referências indispensáveis ao estudo da vida de Tobias Barreto. Sergipano, o autor da obra, é jornalista militante na imprensa baiana, vem dá sua contribuição ao estudo da marcante personalidade da Escola de Recife.
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Rosa da Noite, José Pedreira, 1953. Genial intelectual baiano, decorador, colecionador e singular escritor. O livro de José Pedreira reúne doze contos com histórias da Bahia: tradições e costumes do povo. Para cada conto, o artista Carybé fez um desenho. O livro foi composto pela oficina Tipográfica Manú.
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Poemas de Amor de Poetas Brasileiros Contemporâneos, Org. Pedro Moacir Maia, coletânea de poetas modernos do Brasil, entre os quais Manuel Bandeira, Mario de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Augusto Frederico Schmidt, Cecilia Meireles, Dante Milano, Vinicius de Marais, Joaquim Cardoso, Emílio Moura, Mario Quintana, Ledo Ivo, Alphonsus de Guimarães Filho e outros. O livro pertence a Coleção Dinamene, composta de livros impressos em papel “esteriedger”, tamanho 32 cms., por 22 cms. Feito em composição manual, tipos “garamond”, corpo 12. Foram vendidos apenas 70 exemplares.
Um continuo Movimento
Entre os dias 17 a 21 do mês de abril de 1950, foi realizado em Salvador o III Congresso Brasileiro de Escritores, com participação de escritores de doze Estados e do Distrito Federal (Rio de Janeiro), tendo Heron de Alencar (1921-1972), como Secretário-Geral e relator, representando o Caderno da Bahia.
Após estada na Bahia e com destino a Fortaleza o poeta Antônio Girão Barroso (1914-1990), jornalista dos Diários Associados no Ceará, com alguns livros publicados ligado ao grupo Clã, tendo passado alguns dias em Recife, revelou que visitando a Bahia pela primeira vez, juntamente com outros companheiros de delegação ao II Congresso Brasileiro de Escritores, teve oportunidade de observar o movimento literário e artístico que se processava, liderado pela revista “Caderno da Bahia”, diz:
Senti a vitalidade desse movimento, não só nas reuniões do “Anjo Azul”, o mais curioso bar que já me foi dado conhecer, como no seio do Congresso, em contato diário com figuras interessantes como Walter da Silveira, voltado hoje quase que inteiramente para o Cinema, Vladimir Guimarães, diretor do Departamento de Cooperativismo da Bahia e um estudioso de literatura, James Amado o romancista de “Chamado do Mar”, a poetisa Jacinta Passos, Vasconcelos Maia, contista dos mais vigorosos, os poetas Claudio Tuiuti Tavares, Carlos Eduardo, Wilson Rocha e outros, o jovem cronista literário Adalmir da Cunha Miranda, João Palma Neto e Luiz Henrique, contistas todos evidenciados que existe na Bahia um grupo valoroso de intelectuais moços. Em Salvador, igualmente, senti o grande prazer de ter conhecido pessoalmente o poeta Sosigenes Costa.
Durante os dias que passei na Bahia assisti a saída de mais um número de “Caderno da Bahia”, e no terreno das artes plásticas várias exposições de pintura e escultura, inclusive uma dos jovens artistas Mário Cravo Júnior, que está fazendo uma arte de vanguarda, Jenner Augusto, Ruben Valentim e Ligia Valentim, a qual suscitou grande interesse e curiosidade por parte dos congressistas e do público. 6
Nesse mesmo mês, aproveitando a presença do poeta Claudio Tuiuti Tavares, durante os dias da realização do IV Congresso Nacional de Jornalismo, em Recife, o grupo da revista Caderno da Bahia, promoveu uma grande exposição de suas edições de luxo, numa das vitrines da Livraria Editora Nacional. Foram expostos exemplares das edições “Caderno da Bahia”, constando de ilustrações de artistas plásticos baianos. Da amostra fizeram partes os livros: Descobrimento, do poeta Carlos Eduardo da Rocha; O Tempo no Caminho, de Wilson Rocha; Contos da Bahia, Vasconcelos Maia, e a Antologia da Poesia de Amor, organizada pelo jovem ensaísta Pedro Moacir Maia.
Imediatamente, o crítico Mario Barata publica o artigo Os Novos da Bahia:
O clima cultural da Bahia é hoje dos mais vivos e cheios de curiosidades do Brasil. Uma equipe renovadora em alguns postos-chave da administração e da imprensa, e um grupo empreendedor de jovens reanimaram o entusiasmo em Foyer de cultura e debates modernos, o mais das vezes com um sentido real dos problemas sociais e humanos, a velha cidade atrai, neste 1950, o interesse de artistas e intelectuais: Djanira, Almir, Noemi, Claudio e vários novos do sul preparam as malas. Vamos dizer-lhes o que são os Novos da Bahia. 7
Desaparecimento dos Cadernos
Em 1953, não mais circulava a revista baiana Caderno da Bahia (1948-1952). Um dos seus diretores, Vasconcelos Maia, que à época, administrava o negócio do pai, dividindo-se entre o balcão e a literatura, anos mais tarde, justificava o encerramento das atividades editoriais:
A revista Caderno da Bahia durou pouco. Seguiu a tradição de todas as publicações literárias no Brasil, com raríssimas exceções. Mas não foi por falta de lastro econômico. Eu continuava à frente da loja de miudeza, situada à rua Guindaste dos Padres e tinha o melhor conceito junto às firmas que nos vendiam. Delas eu arrancava publicidade que daria para manter vivo o nosso boletim. Desaparecem por ser já desnecessário. Conto o motivo: Chiacchio morrera. Com ele desaparecia a chama que mantinha acesa a Ala de Letras e Artes. Com sua ausência, sumiu também o rodapé por ele assinado nas páginas de A Tarde, a gazeta que, em verdade, dava prestigio e força às suas iniciativas. 8
Sobre a revista, a professora Ivia Alves, estudiosa do Modernismo na Bahia e autora do livro Arco & Flexa em artigo publica em A Tarde Cultural de 1990, discorre sobre “As revistas literárias e o modernismo na Bahia”:
É com Caderno da Bahia que o momento de intercâmbio se faz e não mais a mão única das tentativas perdidas. Caderno da Bahia será a revista aglutinadora da nova modernidade. Idealizada por jovens amigos e financiada por Vasconcelos Maia, que lutava para conservá-la à cata de anúncios comerciais, ela foi um dos períodos mais duradouros da época. O grupo não encontrava espaça na imprensa local, pois o academismo e o ranço tradicionalista envolviam toda a imprensa. Constituídos em um grupo, os jovens puderam revolucionar a tradicional Salvador com um movimento abrangente da literatura, passando pela música até as artes plásticas. 9
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Exposição na Pauliceia
Em janeiro de 1957, quinze artistas plásticos baianos expõem no Museu de Arte Moderna seus trabalhos de inspirações popular e folclórica: desenhos, gravuras, esculturas e pinturas. Caribé, uma espécie de “papai” do grupo, disse a imprensa paulista – já com o sotaque excelentemente baiano:
Aqui estamos para mostrar aos paulistas nossa arte, voltada para a tradição e para o povo.
Levou para sampa, os famosos desenhos e um mosaico. Lenio é o mais moço do grupo (25 anos), ceramista, pintor e desenhista – tudo figurativo, com temas baianos. Mário Cravo mandou novas esculturas, em ferro, pedra e madeira. Genaro de Carvalho expõe suas tapeçarias de cunho acentuadamente brasileiros, nas cores, temas e execução artesanal, por um grupo de baianas. É pioneiro, mesmo de trabalhos desse tipo em nosso país. Hansen Bahia, o alemão gravador e boêmio, tem dez gravuras, “incursões noturnas pelos mistérios da Bahia”. Jenner Augusto, sergipano que vive na Bahia desde 1948: apresentou suas pinturas e desenhos. Mirabeau (1911) era proprietário de uma fábrica de calçado. Vendeu para se dedicar exclusivamente à pintura. Escultor de temas regionais. Quaglia (28 anos) pintor e funcionário público, suas telas têm uma leve tendência abstrata, coisa rara nos artistas plásticos baianos. Raimundo Oliveira é de Feira de Santana, jovem pintor místico que gosto dos temas bíblicos. Valentim, deixou a profissão de dentista para ser pintor abstrato. Ubirajara é arquiteto paulista e reside na Bahia.
Adalmir da Cunha Miranda, jornalista e escritor reconhecido no mercado editorial brasileiro, foi o diretor responsável pela Exposição e fala sobre ela:
Esta exposição reafirma a minha crença de que da capacidade criadora dos artistas baianos, sairá obra permanente e característica – e de integração vertical com os valores estéticos que a paisagem, a terra e o povo da Bahia oferecem. 10
Nesse mesmo ano, a imprensa noticiava, afirmando que o atual momento literário na Bahia se encontrava em ponto morto:
Embora Wilson Rocha, Carvalho Filho, Vasconcelos Maia, José Pedreira, Nelson de Araújo, mantenham em forma a nossa tradição de terra de escritores, não se pode comparar, em absoluto, o que se faz agora com o que se fez durante a década do Caderno da Bahia, em torno de cujo movimento se congregaram alguns dos nossos escritores mais representativos. 11
Depoimentos
Durante a curta permanência no Rio de Janeiro em abril de 1955, o jovem poeta baiano Muniz Bandeira (1935-2017), manteve contatos com alguns círculos literários. Aproveitando sua presença no Rio, foi entrevista pela Tribuna da Imprensa sobre o movimento intelectual da Bahia. Vejamos a entrevista completa e ousada, para um jovem de apenas 20 anos, que somente publicaria seu primeiro livro um ano depois: Verticais, coleção dos “Novos” do Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura.
Disse inicialmente: Muniz Bandeira.
– Em linhas gerais, o movimento literário na Bahia é muito fraco. Aliás, não é preciso que se diga, não possuímos sequer um jornal ou uma revista de literatura. E, por outro lado, apenas uma editora existe, a Livraria Progresso, que vem fazendo publicações interessantes, mas ainda sofrendo as deficiências naturais de tudo que começa. Mas, apesar dos pesares, há gente que devotadamente se dedica às letras, em particular, à poesia.
– Entre os novos, poucos são aqueles que já surgiram nos nossos suplementos literários (2 apenas, sendo que um deles apenas transcreve as matérias publicadas na imprensa do Rio). E, por nisso, da novíssima geração, limito-me a citar os nomes de J. Eurico da Matta, no ensaio, e Raimundo Amado, na poesia. Isto não quer dizer que não haja outros rapazes, jovens de mais ou menos 20 anos, que têm méritos, que estudam, que produzem. Poucos, porém, entre os novos, cultivam o conto, a novela, o romance. E, assim mesmo, já são de outra geração, como, por exemplo, Nélson de Araújo, José Pedreira, Vasconcelos Maia e, talvez algum outro sem nome…
A poesia esta sim, tem verdadeiros valores. Dentre estes Carvalho Filho, considerado o maior poeta vivo da Bahia. Ainda podemos falar de Camilo de Jesus Lima, sem dúvida, outro poeta. Destaca-se também o nome de Godofredo Filho. É claro que nos referimos aqueles que vivem na Bahia, razão por que convém lembrar os nomes de Odorico Tavares, Claudio Tuiuti Tavares e Wilson Rocha.
– Todavia, devemos assinalar um fenômeno que tem despertado a atenção de todos: o êxodo dos escritores baianos para as bandas do Rio e de São Paulo. E com razão. Os que desejam conquistar o seu lugar ao sol veem-se na impossibilidade de continuar na província, quem nenhuma perspectiva lhes oferece. E são muitos, cujos nomes todos nós conhecemos. É um fenômeno que se prende, como todos sabem, ao atraso econômico da Bahia, um Estado que possui inúmeras riquezas a exemplo do petróleo, mas que ainda permanecem quase inexploradas. A sua população é constituída, na maioria de pequenos burgueses e funcionários públicos retardatários, parasitas, conservadores e reacionários, que alimentam o mito de Rui, a quem a História ainda não fez justiça, reduzindo-o às suas devidas proporções. Em consequência, o prestigio do academicismo, numa província sem indústria, economicamente estagnada, resulta no apego a uma literatura que já perdeu a sua razão de existir. Naturalmente, entre os artesões do verso, depois do desaparecimento de Artur de Salles, remanescente do movimento simbolista, aliás, uma das maiores expressões da poesia baiana de todos os tempos, e, recentemente, de Anísio Melhor, que merece também as homenagens de todos nós, ainda vamos encontrar Elpídio Bastos, Bráulio de Abreu e Ivan Americano, que são, de fato, figuras expressivas, não obstante as tendências que encarnam e representam. 12
Escritores na Berlinda é o título da entrevista de Hélio Pólvora (1928-2015), realizada em 16 de junho de 1957, no jornal do Rio de Janeiro, Luta Democrática – “um jornal de luta feito por homens que lutam pelos que não podem lutar”, dirigido por Tenório Cavalcanti. Em entrevista a Flávio Costa Barbosa, escritor que mantinha uma coluna no jornal A Tarde, ex-Diretor da revista Ângulos. Sobre o panorama literário da Bahia, Hélio pergunta ao entrevistado – Quais os escritores da Bahia que exercem uma atividade literária mais constante?
– São poucos, como disse: Vasconcelos Maia e Nélson de Araújo, contistas; Wilson Rocha e Carvalho Filho, sobretudo poetas; Waldelois Rego Santos; Machado Neto e mais alguns, valendo a pena destacar o jovem poeta Florisvaldo Matos, que só agora está começando a publicar os seus poemas. No mais, há os que se exilaram voluntariamente: Heron de Alencar, em Paris; Adalmir da Cunha Miranda, em São Paulo; Jair Gramacho e Telmo Padilha no Rio de Janeiro; e Sadala Maron, em Ilhéus.
Em 1958 o jornalista José Condé, editor do Jornal de Letras, esteve pela primeira vez em Salvador registrou alguns aspectos da nossa cultura, por questão de tempo foi impossibilitado de conversar com alguns escritores, por esse motivo solicitou a Vasconcelos Maia para que fizesse um depoimento sobre o momento literário na Bahia. Atendendo ao pedido do amigo, Maia traçou um curto panorama do expressivo momento cultural dos últimos anos:
O que há de novo por aqui, em literatura é Ariovaldo Matos, autor de um bom romance publicado há algum tempo “Corta-Braço”, que narra o drama das “invasões”, dividiu comigo o prêmio da Câmara Municipal, com “A Dura Lei dos Homens”, contos fortes, bem urdidos; temática: as lutas político-policiais. É dos melhores jornalistas que possuímos atualmente. Pena que continue aqui, estiolando seu talento e vitalidade. Outro contista de grande merecimento é Nelson de Araújo. Veio de Sergipe, mas reside na Bahia, há quinze anos. Sua literatura, porém, continua presa à sua terra e à sua gente. Também é jornalista, trabalha com Pinto de Aguiar na Editora Progresso e, se estivesse no Rio ou em São Paulo, seu nome teria projeção maior, É autor de “Um acidente na estrada”, volume de contos premiado em primeiro lugar no Concurso do Gerhard Meyer Suerdieck, no ano passado. São histórias de alta densidade psicológica, conduzidas por uma forma segura. (…)
Na poesia, além dos já nacionalmente conhecidos Wilson Rocha e Carvalho Filho, Camillo de Jesus Lima, Claudio Tuiuti Tavares e Jair Gramacho, é justiça e prazer assinalar o trabalho tanto individual como de equipe que vem realizando um grupo de jovens universitário da revista MAPA, que me faz recordar, com saudade, nosso Caderno da Bahia. 13
Notas
1 Sosigenes Costa – Crônicas & Poemas Recolhidos, GILFRANCISCO. Fundação Cultural de Ilhéus, 2001. Pedro Kilkerry maldito entre malditos, GILFRANCISCO. Aracaju, Edições GFS, coleção BASE 13, 2022.
2 Em homenagem aos cinco anos do seu falecimento, publiquei em 14 de julho de 1990 no Caderno A Tarde Cultural, o artigo Vasconcelos Maia revisitado.
3 Revolução na Bahia, Odorico Tavares. O Cruzeiro edição nº 38 de 7 de julho de 1951. (Fotos de Pierre Verger)
4 Um lugar ao sol. Caderno da Bahia e a virada modernista baiana (1948-1951), Tiago Santos Groba. Dissertação de Mestrado – UFBA, Salvador, 2012.
5 Revolução na Bahia, Odorico Tavares. O Cruzeiro edição nº 38 de 7 de julho de 1951. (Fotos de Pierre Verger). Logo após sua inauguração, houve uma campanha feroz de difamação e perseguição ao Anjo Azul. Um escândalo geral. Era considerado um antro de imoralidade, um atentado às famílias. Diziam que havia até castelo na parte superior com quartinhos e tudo.
6 Diário de Pernambuco. Recife, 25 de abril de 1950.
7 Jornal dos Novos, nº 8, 30 de abril de 1950, republicado no Diário da Manhã, Recife, nº 52, 18 de junho de 1950.
8 Depoimento. Literatura Baiana (1920-1980), Valdomiro Santana. Rio de Janeiro, Philobiblion/MEC, 1986. Republicado na Revista Cult. Bahia, Salvador, 2003.
9 As revistas literárias e o modernismo na Bahia, Ívia Alves. Salvador, A Tarde Cultural, 23 de junho de 1990.
10 Tribuna da Imprensa. Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1957.
11 Diário Carioca (Letras e Artes). Rio de Janeuiro,24 de fevereiro de 1957
12 Tribuna da Imprensa. Rio de Janeiro, 16-17 de abril de 1955.
13 Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 29 de maio de 1958.
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