José Vieira da Cruz

Historiador, Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e ex-vice-reitor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

As cores que representam a brasilidade estão cada vez mais presentes e atuais. Vemos e veremos isso neste mês de novembro, pois passadas as disputas, polarizações e rivalidades eleitorais estamos nos vestindo e nos reencontrando com as cores e os símbolos nacionais: Bandeira, Brasão da República, Selo e o Hino Nacional. Esses símbolos foram criados simbolicamente para demarcar quem somos, bem como, o lugar que ocupamos no mundo: é nossa identidade de brasileiros(as). Além disso, eles servem para representar a unidade, identificação e congraçamento dos(as) brasileiros(as) de diferentes regiões, idades, tons de pele, etnias, gêneros, religiões e classes sociais. Vejam, estamos todos voltados para uma identidade de país, uma identidade nacional.

Lembro, desde os tempos de escola, no curso da década de 1980, que tanto o hasteamento da Bandeira quanto o canto do Hino evocavam os referidos sentimentos de pertencimento, respeito e de reconhecimento enquanto nação soberana. Além disso, havia concursos para que os(as) alunos(as) do 1º e 2º graus, atualmente ensino fundamental e médio, tanto conseguissem escrever quanto cantar o Hino Nacional corretamente. Isso nos fez ter a perspectiva de pertencimento, luta, amor ao país e, principalmente, respeito à República, às ideias democráticas e solidariedade a outros povos e nações.

Sei, e é de conhecimento de todos, que aqueles também foram tempos de contestação aos horrores da ditadura, reorganização da sociedade e de avanços dos sentimentos de cidadania, liberdade de expressão e de democracia. Neste sentido, nunca perdemos de vista o respeito à soberania nacional, à justiça social e à liberdade individual e de expressão.

Assistir, portanto, ao fim da ditadura civil-militar (1964-1985), à ascensão da Nova República e a redemocratização do país à luz da atual Constituição Federal, promulgada em 1988 – nas últimas décadas o conjunto desses acontecimentos têm ajudado a consolidar os rumos da sociedade e da democracia brasileira. Na sequência dessa teia dos tempos, no curso da minha vida pessoal, acadêmica e profissional, reencontrei, com certa frequência, tanto a Bandeira quanto o Hino Nacional, em aberturas de cerimônias institucionais e esportivas. Entre elas, destaco as formaturas acadêmicas, nas quais, em muitas delas, além de presente, tive a honra de presidi-las e de conferir o grau de nível superior a muito(a)s profissionais habilitados pelo trabalho de excelência, qualidade e compromisso dos que fazem a universidade pública. Em cada um desses momentos, o sentimento de nacionalidade, pertencimento, democracia e de dever cumpridos, foram valorizados, potencializados e ressignificados positivamente.

Porém, nos últimos quatro anos, também, assisti – perplexo, incrédulo e triste –, uma indevida apropriação e privatização personalista-partidária dos símbolos nacionais e, consequentemente, da utilização deturpada de suas cores, representações e significados. O país tem atravessado um presente histórico delicado, antagônico e disputado. Uma realidade que impõe a necessidade de uma escuta, olhar e compreensão sensível, atenta e perspicaz. Nesse sentido, aprofundar como a sociedade tem se organizado e alimenta seus horizontes de expectativas é, apesar das contradições, ambivalências e complexidades, uma tarefa urgente, desafiadora e necessária – tanto para alavancar o fortalecimento da soberania e do desenvolvimento nacional quanto para consolidar a democracia entre nós.

Apesar deste cenário, a valorização do verde, amarelo, azul e branco, fortalecidos após as eleições e frente a mais uma participação do país em uma Copa do Mundo, tem colaborado para o resgate das cores e dos símbolos nacionais, a exemplo das bandeiras estampadas e/ou hasteadas, a olhos vistos, nos para-brisas de carros e nas janelas de casas, prédios, bem como, em praças, empresas e instituições. Esse sentimento, reforçado pelo uso cada vez mais frequente de camisas da seleção brasileira de futebol, é perceptível nas ruas, bairros e povoados de diferentes cidades e estados do país. Afinal, os símbolos nacionais, dentre eles o Hino, a Bandeira Nacional e suas cores, pertencem aos(as) brasileiros(as) independentemente de sua filiação político-partidária, ideológica e ou região de origem. Em outras palavras: o Brasil é do povo brasileiro! É de todos(as) nós!

Assim, na chamada pátria de chuteiras, pentacampeã mundial, milhões de torcedores e de técnicos, mais uma vez, evidenciam a aquarela de uma sociedade constituída por índios, negros, quilombolas, ribeirinhos, sertanejos, pardos e brancos – ainda que dispersos em diferentes segmentos, categorias, recortes, clivagens e grupos de interesse.

Por isso, faço a opção por acreditar no sentimento de respeito, congraçamento, identidade e pertencimento de brasilidade como norte inspirador do esforço democrático em prol do desenvolvimento político, econômico, cultural e social do país.

Dessa forma, a poucos dias da estreia do Brasil na “Copa do Mundo da FIFA Catar 2022”, o vestir verde, amarelo, azul e branco, o hastear da Bandeira e o cantar do Hino Nacional pelos quatro cantos, rincões e recantos do país, atestam a identidade brasileira, inclusive à revelia das disputas, rusgas, ranços, ressentimentos e polarizações eleitorais e das contraposições político-partidárias. Esses sentimentos contrapostos, gradualmente estão sendo deixados de lado, revistos e superados. Espero que este horizonte de expectativas continue a crescer, viralize e envolva a todos(as).

Enfim, sigamos com as cores da bandeira, alegria dos eventos esportivos e os significados civilizatórios de paz, cidadania e democracia da pátria verde-amarela-azul-e-branca, pois nossa bandeira é uma só!!!! Ela simboliza um país, um povo e uma nação em busca do hexa campeonato mundial de futebol, como também, que deseja, merece e trabalha em favor do desenvolvimento soberano, sustentável, democrático e com justiça social do país. O Brasil somos todos nós! Brasileiros e brasileiras de todas as partes do país!

—————–

Foto: Arquivo Pessoal