“O uso médico da Cannabis atravessou impérios, continentes e milênios. Hoje, infelizmente, é discriminado no Brasil”. A fala é da médica Mirene Morais, certificada internacionalmente em Cannabis medicinal, durante palestra que ofereceu um panorama amplo sobre a utilização terapêutica da planta no Brasil e no mundo. A apresentação fez parte do “Simpósio de Cannabis medicinal: da farmacologia à clínica médica”, realizado no campus São Cristóvão da Universidade Federal de Sergipe – UFS –, no último dia 6, à noite.

Pós-graduada em dor pelo Hospital Sírio-Libanês, a profissional de saúde relatou os primeiros registros de uso da planta para fins medicinais, aliada no tratamento de doenças como câncer, esquizofrenia, mal de Parkinson, depressão, entre outras, além do histórico de uso da Cannabis em território brasileiro. “Seja para rituais ou para tratar doenças, a planta está presente há milênios na sociedade. Acredita-se que tenha sido em 2.700 antes de Cristo, na China, que ela tenha sido utilizada pela primeira vez. De lá para cá, inúmeros povos fizeram utilização médica da Cannabis. Inclusive, até o final do século XIX, o Brasil fazia uso frequente dela para medicamentos e manufatura”, explicou Mirene.

O preconceito ao redor da planta, explicou ela, começou a ganhar corpo a partir do século XX, quando convenções internacionais a colocaram no mesmo grupo que entorpecentes. “Isso não ocorreu no vácuo. Indústrias como a do petróleo e do algodão rivalizavam com o cânhamo, uma espécie de Cannabis utilizada para fabricação de itens diversos, que vão de têxteis a plásticos. Soma-se a isso a discriminação racial, muito forte à época nos Estados Unidos, responsável por promover campanhas contra a planta. Foi a ‘tempestade perfeita’”, contou Mirene.

Além disso, a médica destacou a atuação dos compostos da Cannabis no corpo, descoberta científica do pesquisador israelense Ralph Mechoulam. “A planta possui substâncias que, na forma de medicamentos, atuam no nosso corpo de forma benéfica, e contribuem para aliviar a dor de pacientes com doenças de natureza crônica e neurológica. Desde a década de 60, estuda-se a Cannabis medicinal e os resultados são muitíssimos positivos. Eles não podem ficar na teoria e precisam ganhar materialidade na vida de quem mais precisa”, defendeu a médica, acrescentando que o Brasil precisa seguir países como Estados Unidos e avançar no tema através de regulamentação.

Multidisciplinar, o evento contou, ainda, com a participação de palestrantes de áreas diversas, e abordou temas como Sistema Endocanabinóide e o potencial clínico para tratamento, formas de extração e formulações farmacêuticas para uso clínico e direito à saúde por meio da Cannabis medicinal.

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Fonte: Ascom

Foto: Divulgação