GILFRANCISCO [*]
Paulo Costa, Promotor Público e advogado brilhante e combativo, inclusive no campo político, fora meu professor de História Universal. Ele me convidou para trabalhar no Sergipe-Jornal, em cuja redação fiz de tudo – desde revisão até noticiário, reportagens e artigos. Paulo Costa, ligado ao político Leandro Maciel, fazia oposição a Maynard Gomes. Era um democrata, lúcida inteligência e até agressivo no afirmar de suas ideias. Mário Cabral, advogado e crítico literário de cultura destacada, fizera-se sócio de Paulo Costa no jornal que, quando em vez, era atingido pela censura do DEIP.
Aluysio Mendonça Sampaio
(1926-2008)
Poesia
Esse discreto poeta sergipano, Aluysio Mendonça Sampaio, que em 2000, aos 74 anos de idade, ainda conservava sobriedade nos gestos com expressão lírica. Soube como nenhum outro poeta de sua geração, concentrar o poder de ir além das possibilidades. Aluysio Mendonça Sampaio surge com a mesma propriedade, a mesma disciplina, a mesma economia de meios do Aluysio contista. Não necessita de novos meios expressionais, nem se violentar na sua maneira de ser.
Para quem o conhece, acompanha sua obra, tem o privilégio de conviver com esse escritor tranquilo na aparência, infenso a exterioridades, mas profundamente inquieto no seu fazer literário; sabe que ele é um poeta de dimensões nacionais, cujos poemas são marcados pelos temas sociais, amorosos, que se refletem em textos suaves e musicais.
Aluysio é um poeta de sensibilidade vibrante, um lírico que busca o brilho do sol dentro de cada ser humano. Embora tenha momentos de explosão e nostalgias imprevisíveis, sua obra como um todo, testemunha outra sensibilidade irônica, uma reluzente viagem através da história, uma verdadeira elucidação da linguagem poética.
Traduzindo na mesma pureza de linguagem, numa integração verdadeira para alcançar a realidade mais real, plena e total, o poeta está preso à vida, ao contingente, aos sofrimentos do homem. Seu itinerário poético faz dessa viagem um caminho para procurar-se no idioma luminoso da poesia, atingindo uma expressão nada comum em nossas letras, dominando com esplêndida segurança.
Encontramos em Poesia, às vezes, São Paulo, Editora L. B. 1999, uma linguagem límpida e concisa, nem por isso livre das metáforas, um poeta liberto das imagens especiosas e dos dogmas racionalistas das vanguardas. Um homem que luta com as palavras, como, tantos outros poetas, a poesia é tema da própria poesia, cabendo ao poeta Aluysio Mendonça Sampaio falar com as coisas, não sobre elas ou através delas.
Primeiros Passos
Nascido em Aracaju, no dia 29 de setembro de 1926, filho de Osvaldo Sampaio e Irinéa Mendonça Sampaio, depois do jardim de infância, Aluysio Sampaio foi estudar no Colégio Ítalo-Brasileiro, da professora Andréa Quaranta, onde permaneceu por pouco tempo, em virtude da professora adotar para seus alunos os livros do integralista Plínio Salgado (1895-1975). Por este motivo seu pai o transferiu para o colégio Tobias Barreto. É possível que Aluysio tenha estudado em um desses livros de Plínio: A anta e o Curupira (1926), O Curupira e o Carão (1927) ou Nosso Brasil (1937). Em 1939, ingressou no Colégio Estadual de Sergipe onde fez os cursos ginasial e colegial e concluiu o curso superior na Faculdade de Direito da Bahia, Aluísio Sampaio é um descobridor de escritores, um poeta que mergulha na ficção, onde a alma humana faz da vida um festim de contradições. Sobre sua obra escreveram: Pacífico Ribeiro, James Amado, Mário Cabral, Moacyr Scliar, Ronaldo Cajiano, dentre outros.
O poeta Aluysio Sampaio faleceu em São Paulo, às 7h30, vítima de um AVC – Acidente Vascular Cerebral – o popular derrame, aos 81 anos, em 12 de abril de 2008, onde morava desde dezembro de 1952. Era casado com Esther Cremaschi Sampaio, deixou quatro filhos.
Militância Estudantil
Por iniciativa do Grêmio Cultural Clodomir Silva, dirigido por Aluysio Sampaio, e a mocidade democrática antifascista de Sergipe, patrocinaram a Exposição Antifascista, inaugurada em 1º de junho de 1945, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, onde foram mostradas fotografias, caricaturas, charges de pintores sergipanos:
A Exposição anti-integralista que prossegue franqueada ao público é mais uma vitória das forças democráticas e progressistas. Lá o povo irá saber muito do que não sabia. Vai ver os povos que atestam eloquentemente que o integralismo não passava de uma sucursal medíocre, mas maléfica do credo de Adolf Hitler. Lá o povo verá o que os plinianos planejavam contra a nossa liberdade. Verá como eles feriram, como eles traiam e, principalmente, como ele matavam. Lá no hall do Instituto Histórico, está a mais veemente resposta, o mais objetivo revide a crítica “Carta Aberta à Nação Brasileira”, tentativa de reorganizar de dendê-pátrias, o mais alto testemunho de que o integralismo não morreu e de que ainda tem esperança. Informa o Sergipe-Jornal, edição de 2 de julho de 1945.
Sua ficha individual em 1964, na Secretaria de Segurança Pública do Estado de Sergipe, registra o seguinte:
É tido como comunista exaltado, irmão do agitador Walter Sampaio, segue à risca os ensinamentos. Atuou durante a legalidade do Partido e na legalidade e continua com o mesmo ardor
Jornalista
Tendo iniciado no jornalismo antes de 1945, editando e escrevendo em jornais estudantis, Aluysio Sampaio, migra para a Imprensa Popular (A Verdade, dirigido por José Waldson Campos, e Jornal do Povo), passando em seguida ao Correio de Aracaju e finalmente a convite de Paulo Costa vai trabalhar no Sergipe-Jornal, até 1950 quando se transfere para São Paulo, dois anos depois, onde colabora em vários periódicos ligados ao Partido Comunista. Em São Paulo exerceu as funções de Juiz do Trabalho e estreia em 1959 – Brasil, Síntese da Evolução Social.
Produção
Como ensaísta, além de artigos divulgados na imprensa, é autor de Brasil, Síntese da Evolução Social, Escravos (A escravidão do indígena no Brasil) e O que é Reforma Agrária. Crítico Literário, publicou, a partir de inúmeros artigos, os livros, Em busca da Manhã (a poesia de José Sampaio), 1996 e Jorge Amado, o romancista, 1998. Sua poesia está em Noite Azul (1971) e Poesia, às vezes, 1999. Como ficcionista, é autor dos romances Zero Três; Ainda é Noite e Os Anônimos, prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras. Aluysio publicou vários livros na área do Direito: Dicionário de direito do trabalho (1982). Aluysio dedicou os últimos anos de sua vida ao seu grande projeto editando regularmente a Revista L. B. –Literatura Brasileira, que chegou ao número 50.
Este velho guerreiro cultural e durante muitos anos editava a Revista da Literatura Brasileira, divulgando velhos e novos escritores. Graças a sua capacidade toda especial, de sentir e de vivenciar o texto, suas palavras seguem meditando seu trajeto e as horas que ainda aguardam na sombra. Esta é a lição primeira que nos fica da leitura de Poesia, às vezes, poemas reunidos de Letras Um (1981), Efêmero (1991) e alguns inéditos. É difícil ao leitor atento deixar de envolver-se nesta busca, como se sua fosse. Poesia, pois é. Poesia, às vezes é um testemunho de sentimento e comunhão, incontestavelmente o seu valor está resistindo ao tempo, pela serenidade do homem e pela excelência de sua literatura.
Com um profundo interesse pelo Brasil, pelos governos e pelos acontecimentos que nos alteram os rumos da história, esse poeta-editor excepcional, que ilustrou o Brasil com o raro dom de reunir os contrários.
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Dois poemas de Aluysio Mendonça Sampaio
Esfinge
esfinge:
o silêncio
e o desprezo pela morte
no silêncio
o amor
ou só o silêncio ?
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Espantalho
espantalho
não de pássaros
que enfeitam a vida
espanto a maldade
que incendeia o mundo
de ódio e morte¹
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¹ Aracaju. Jornal da Cidade, 11 de março,2000. São Paulo, Revista da Literatura Brasielira, nº. 17, 2000.
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[*] É jornalista e escritor. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
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