Fabiana Lisboa [*]

O livro de Gilfrancisco é uma contribuição à cultura, à educação e à pesquisa científica. Surge no momento oportuno em que a obra da escritora sergipana Alina Paim está sendo redescoberta e estudada nos espaços acadêmicos e alguns romances são republicados. Em investigação aprofundada na Biblioteca Nacional e no Arquivo Nacional, Gilfrancisco recolheu textos que redimensionam os estudos da obra, revelando detalhes da intensa participação política da romancista, fato que marcou parte de sua produção literária.

A edição do livro pelo Tribunal de Contas do Estado de Sergipe – TCE – foi um desafio aceito pelo atual presidente Clóvis Barbosa de Meloa. A parceria mostra que toda instituição pode contribuir com o processo cultural e garantir seu acesso a todas as camadas da sociedade.

Estudioso dedicado à vida e obra de Alina Paim, Gilfrancisco reúne reportagens de diversos periódicos que registraram a militância política e a carreira literária da romancista. A obra também é um resgate de alguns romances de Alina Paim, colocando ao alcance do leitor prefácios e análises de críticos renomados da literatura brasileira. Estrada da Liberdade (1944) e Simão Dias (1949) lançaram a autora no cenário literário nacional e encaminharam o debate que a escritora manteve em suas obras: os desafios da mulher na sociedade e sua postura diante deles.

Seus trabalhos anteriores são fontes indispensáveis às produções acadêmicas em torno das obras de Alina Paim, intensificadas nas últimas décadas. Gilfrancisco defende a publicação dessas pesquisas em livros a fim de possibilitar a leitores e estudiosos o acesso às produções científicas debruçadas sobre a ficção da escritora sergipana. Para tanto, preocupou-se em apresentar as dissertações defendidas no espaço acadêmico, na UFS.

Gilfrancisco, pesquisador incansável da historiografia cultural de Sergipe e do Estado da Bahia, já demonstrou em publicação anteriormente, seu esforço na divulgação da obra da autora: A romancista Alina Paim, Edições GFS, 2008; Estrada da Liberdade, Assembleia Legislativa da Bahia, 2ª edição, 2014 (abas) Simão Dias, Edise, 3ª edição, 2015 (apresentação e coordenação editorial) e agora nos brinda com mais uma contribuição aos estudos da sergipana homenageada, Alina Paim – a greve na Rede Mineira de Viação (2016).

Alina Paim, a greve na Rede Mineira de Viação, concentra-se no quarto romance da autora, A hora próxima (1955), que vendeu mais de 10.000 exemplares e teve traduções para o russo e o chinês. Construir um romance, no Brasil, no contexto da Guerra Fria e no governo de Vargas foi um ato de coragem e de compromisso com os grupos subalternos. Alina Paim romanceia uma greve de ferroviários no sudeste do Brasil, cuja participação efetiva das companheiras dos trabalhadores é essencial à sustentação do movimento. O pesquisador Gilfrancisco apresenta textos de periódicos que mostram a trajetória da autora em sua saga romanesca. A convivência com as famílias dos grevistas, a ameaça de prisão e a adesão ao Realismo Socialista estão à disposição do leitor para acompanhar uma produção ficcional baseada na interface História e Literatura. Jornais e revistas do PCB guardam um memorial do protagonismo do operariado brasileiro num contexto político de intensas disputas. O registro de Alina resgata a história através das memórias dos ferroviários da RMV, cujos trilhos estavam sujos estavam sujos de fumaça e de exploração.

As investigações de Gilfrancisco legam a leitores e pesquisadores a oportunidade de [re]visitar a romancista sergipana na profundidade do seu fazer literário e, certamente, constarão nas bibliografias de estudos futuros.

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[*] É Mestra em Letras pela UFS e professora da rede pública do Estado de Sergipe