O judô está de volta à sua casa. Em 1882, Jigoro Kano fundou o Instituto Kodokan como “um lugar para estudar o caminho” para, além de tornar a arte marcial um esporte, desenvolver uma linha filosófica baseada no conceito ippon-shobu (luta pelo ponto perfeito) e um código moral. Ele queria que a prática do Judô fortalecesse o físico, a mente e o espírito de forma integrada.

E alguns atletas da seleção brasileira tiveram que passar por esse processo de crescimento para estar nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. Estrelas da melhor geração feminina da história do esporte, Ketleyn Quadros, Mayra Aguiar e Maria Suelen Altheman, superaram grandes adversidades para representar o Brasil no evento.

As disputas do judô começam no sábado, 24, a partir das 11h do Japão (23h de sexta no horário brasileiro), no Nippon Budokan.

“Depois da grande alegria que eu tive em Pequim 2008, ficar fora dos Jogos nos últimos dois ciclos olímpicos foi duro, mas acho que me ajudou muito no meu amadurecimento. Hoje sou uma atleta muito mais completa, pude perceber os erros no processo. As medalhas são consequência de quem acredita. Eu acreditei, me reinventei e tive alguns dos meus principais resultados recentemente. Isso me motiva muito”, disse Ketleyn, que compete em Tóquio na categoria até 63kg e foi a primeira atleta brasileira a ganhar uma medalha em esportes individuais, o bronze em Pequim 2008. Ela volta aos Jogos depois de 13 anos.

Bicampeã mundial e medalhista de bronze nas duas últimas edições dos Jogos (Londres 2012 e Pequim 2008), Mayra Aguiar passou por cirurgia em 2020 após sofrer uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo.

“Foi uma superação de novo. Foi uma lesão dura, que leva meses para recuperar. Desde a cirurgia eu me agarrava às pequenas vitórias. Tive pessoas capacitadas à minha volta que me ajudaram muito. Foi um baque até chegar aqui, mas valeu a pena. Estou me sentindo mais forte mentalmente”, disse Mayra, que compete na categoria até 78kg.

Maria Suellen, por sua vez, travou uma batalha dura com a jovem Beatriz Rodrigues pela vaga olímpica. A confirmação de seu lugar em Tóquio aconteceu apenas no Campeonato Mundial 2021, com a conquista da medalha de bronze em cima da cubana Idalys Ortiz, de quem a brasileira nunca havia ganhado.

“Eu sempre acreditei em mim e tive muita gente que acreditou também. Essas pessoas me deram e consegui essa vitória tão marcante, que acabou garantindo a minha vaga nos Jogos Olímpicos. Me sinto mais preparada que nunca para buscar esse pódio olímpico”, disse Maria Suelen.

Apesar de contar com esse trio de peso e com Rafael Silva (acima de 100kg), bronze nas duas últimas edições olímpicas, a equipe brasileira passou por uma renovação muito grande. São sete atletas (duas no feminino e cinco no masculino), mais da metade da equipe, que disputarão uma edição pela primeira vez.

“É uma honra, uma felicidade, um prazer estar em uma Olimpíada no país que é o berço do judô. Eu tive a oportunidade de disputar o Mundial aqui em 2019, que já foi no ginásio dos Jogos, e deu pra sentir uma atmosfera bem diferente, da essência do nosso esporte. É uma explosão de sensações difícil de definir. Eu vou ter a oportunidade de representar o meu país, fazendo o esporte que eu amo, no lugar onde ele foi idealizado”, disse Rafael Macedo, um dos estreantes da equipe.

Entre eles, estão os dois judocas que abrem a participação brasileira no Japão, Eric Takabatake (60kg) e Gabriela Chibana (48kg), no dia 24, além de Larissa Pimenta (52kg), Daniel Cargnin (66kg), Eduardo Katsuhiro Barbosa (73kg), Eduardo Yudy Santos (81kg) e Rafael Macedo (90kg). Para Macedo, campeão mundial júnior em 2014, disputar Tóquio 2020 no mesmo local da estreia da modalidade em Jogos Olímpicos, na edição de 1964, é algo histórico.

“A maioria das pessoas veem como uma pressão, mas eu vejo isso como uma inspiração. Vejo como algo que é possível. O judô ter esse retrospecto positivo de medalhas nos Jogos, só me deixa mais esperançoso de saber que é possível e espero, se Deus quiser, trazer a minha também”, disse Eric.

O judô, que será disputado na lendária arena Nippon Budokan, é o esporte que mais rendeu medalhas olímpicas ao Brasil: 22, sendo quatro de ouro, 7 de prata e 15 de bronze. Desde os Jogos Los Angeles 1984 os brasileiros sobem ao pódio olímpico ao menos uma vez por evento. O sorteio que definiu as chaves foi realizado nesta quinta, 22.

“Assim que sai a chave eu dou uma olhada para ver como vai ser o meu caminho, para pensar as situações de luta e trabalhar a parte tática nos treinos perto da competição. Mas eu me sinto preparado e estou aqui para enfrentar quem tiver que enfrentar”, analisou Macedo.

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Fonte: COB

Foto: Gaspar Nóbrega/COB