GILFRANCISCO [*]
Tendo sido um dos diretores da primeira fábrica de tecidos em Sergipe, entre 1906/1927, criada em 15 de fevereiro de 1882 na cidade de Maruim um dos grandes centros do comércio açucareiro da província, sob a denominação de Cruz & Cia, por iniciativa do comerciante baiano João Rodrigues da Cruz (1844-1893), explorou o comércio de exportação e importação e com a ajuda do irmão Thomaz Rodrigues da Cruz (1852-1919) rapidamente prosperou.
Em 1881 seu pai, o estanciano José Augusto Cesar Ferraz, guarda livro da firma, por decisão da diretoria, passa a ser o encarregado de todos os negócios da Associação Sergipense, responsável pela Companhia de Navegação Fluvial em Sergipe. Devido a capacidade e inteligência para os negócios comerciais, ingressa na sociedade Cruz, Ferraz & Cia.
Em Aracaju a Sergipe Industrial foi inaugurada em 20 de abril de 1884, no Bairro Industrial, e funcionava com 60 teares e empregava 160 operários que trabalhavam 12 horas por dia, produzindo brim, cetim, bulgariana, algodãozinho e estopa. Mas seu principal mercado era a produção de sacos para a indústria do açúcar. Com a morte do pai em 1906, Thales Ferraz passa a integrar a sociedade e treze anos depois com a morte de Thomaz, chega a gerência da Sergipe Industrial, permanecendo até sua morte, em 1927.
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Filho do industriário José Augusto Cezar Ferraz e Anna Ferraz, nasceu em Aracaju a 8 de outubro de 1878 e faleceu na mesma cidade em 27 de setembro de 1927. Tinha três irmãos; Álvaro Ferraz, Belisana Ferraz da Fonseca e Lysippo Ferraz proprietário de uma casa comercial. Thales Ferraz iniciou seus estudos nesta cidade e fez o seu curso de preparatórios em Salvador no Colégio S. Salvador (BA). Em seguida segue para a Europa onde se matricula na Universidade de Manchester, diplomando-se em engenharia têxtil, após um curso de cinco anos, dos quais dois passou nas grandes oficinas de Boltha, estágio obrigatório, um complemento prático e obrigatório dos estudos daquela universidade, na seção de Engenharia Têxtil.
Ao retornar ao Brasil, ocupou o lugar de engenheiro da fábrica Sergipe Industrial, fazendo parte da diretoria do mesmo estabelecimento a partir de 1906, pelo falecimento do seu pai José Augusto Cezar Ferraz. Na qualidade de diretor, ele dirigiu a reforma completa dos maquinismos, demonstrando conhecimentos técnicos notáveis, cujas qualidades de iniciativa e boa direção empregada em harmonia com as dos seus companheiros de diretoria: Thomaz Rodrigues da Cruz (1852-1919) e Manuel Rollemberg Rodrigues da Cruz (1886-1937).
Em 1918 Thales Ferraz sofre um grande golpe, quando em 1º de abril morre prematuramente seu irmão Álvaro Ferraz, comerciante de prestigio na capital federal. Segundo o Diário da Manhã em Nota de falecimento, diz ser o falecido um “distinto cavalheiro de aprimorada educação, possuidor de um espírito fino, cujas qualidades eram por demais distintas e conhecidas em nosso meio social”.
Álvaro Ferraz encontrava-se adoentado há algum tempo na capital federal, tendo regressado a Sergipe para procurar no interior do Estado, recursos para sua saúde, profundamente abalada. Decorrido sete meses, outro choque que o deixara bastante abalado, o falecimento de sua mãe, Anna Ferraz em 27 de novembro.
O jornalista Luiz Antonio Barreto (1944-1912), um dos grandes preservadores da memória histórica e cultura de Sergipe, em um dos seus trabalhos publicado em 2005, 10 de janeiro no Correio de Sergipe, dedicado às comemorações dos 150 anos da história de Aracaju, entre outros assuntos expostos, tratam das novidades da década de 20 na capital sergipana:
Em 1927 falece Thales Ferraz, engenheiro têxtil formado em Manchester, na Inglaterra, por muitos anos Diretor da fábrica Sergipe Industrial, criador e mantenedor do Parque Sergipe Industrial, o maior e mais diversificado complexo de lazer da capital sergipana. Em 1913, depois de viajar pelos Estados Unidos da América do Norte em busca de ideias para as relações com os operários da fábrica. Thales Ferraz desenhou e instalou o Parque, com mesas e cadeiras acolchoadas, para uso dos trabalhadores e suas famílias, oferecendo cinema, espetáculos de teatro, de música, ampliando o convívio social nos bailes, nos piqueniques, excursões, enquanto garantia serviços médicos, odontológicos, farmacêuticos, educacionais aos filhos dos operários. Creche, escolas, farmácia, existiam ao lado dos clubes desportivos, formados com o pessoal da própria fábrica.
Thales Ferraz foi um benemérito da cidade de Aracaju, contribuindo para a construção do Hospital de Cirurgia. Com a construção de casas operárias e abertura de novas vias no bairro Chica Chaves, contribuiu para as constantes ações populares do bairro. Segundo Luiz Antonio Barreto em artigo publicado na Gazeta de Sergipe em 21 de fevereiro, 1882, esclarece que a fábrica, “pioneira na organização de festas e que proporcionou aos seus operários o lazer diversificado que a cidade ainda não oferece a sua população”. Tais opções de lazer estendida à população local, foi à instalação do Cinema Parque, exibido ao ar livre numa parte anexa a fábrica. O movimento crescia lentamente no bairro e foi melhorado depois que a ponte que liga a capital ao Bairro Industrial foi recuperada, com estrutura de concreto.
As pequenas feiras-livres que se formavam em frente da fábrica, nos sábados à tarde, dia do pagamento do pessoal, sobreviveram por alguns anos, mas também desapareceram, relata Fernando de Figueiredo Porto em Alguns Nomes Antigos do Aracaju. Amando Fontes em seu romance Os Corumbas (1933) marca, define, fixa, envolve na sua trama um flagrante da luta proletária, o episódio trágico de suas greves. Não é um livro revolucionário. Não prega nem excita as massas e sim um relato de lamuria, de sentimentalista revolta individual de cada operário das fábricas; Confiança e Sergipe Industrial. A famosa “Feirinha do Tecido” realizada próxima às fábricas está descrita pelo autor sergipano/santista:
Nesses dias as fábricas largavam mais cedo, depois de efetuado o pagamento. Em frente aos seus grandes portões formava-se uma pequena feira, que servia de distração aos proletários.
Para lá acorriam sírios, com suas caixas de bugigangas, pretas velhas, com seus tabuleiros de doces e de frutas; roceiros, com enormes balaios de aipim e de beijus…
Além dos vendedores, havia ainda muita gente. Homens, que vinham esperar as namoradas; mães, que iam ao encontro das filhas, portadoras do dinheiro tão precioso; bandos de soldados do Exército e da Polícia, a chalacear com as raparigas; malandros e curiosos, atraídos pelo ajuntamento de mulheres.
Com a substituição do bonde de tração animal pelo elétrico introduzido da cidade de Aracaju em 1908, muito contribuiu para o desenvolvimento do bairro. Nosso maior memorialista, Murilo Mellins, que na juventude foi assíduo frequentador do Bairro Industrial, onde semanalmente visitava sua bela cabocla, uma jovem operária da fábrica Sergipe Industrial, descreve muito bem o trajeto bonde em seu livro Aracaju Romântica que vi e vivi (anos 40 e 50):
Bonde número I – Bairro Industrial. Ponto de partida: Praia do Tecido ou (Chica Chaves), percorria a Avenida Confiança, Avenida João Rodrigues, passando pelo Centro, entrando na Praça Fausto Cardoso, indo pela Avenida Ivo do Prado, Avenida Augusto Maynard, descendo a Rua Itabaiana, em direção à Rua João Pessoa e daí ao ponto de origem.
O Correio de Aracaju registra-se em edição de 3 de julho de 1912, um grande baile organizado pelos operários da fábrica Sergipe Industrial, realizado em um dos seus salões:
A banda de música do corpo policial tocou bonitas contradanças, que outras vezes eram substituídas pelo piano.
A hora adiantada da manhã, por entre as saudades dos convivas, terminou-se o festival, deixando a mais agradável impressão.
Na primeira fase da criação do Centro Operário entre 1911/1915, a escola operária funcionou no salão da Fábrica de Tecidos da Sergipe Industrial, contando com a ajuda do empresário e engenheiro têxtil proprietário da fábrica, Thales Ferraz (1878-1927), tentou repassar os seus conhecimentos técnicos e científicos aos mestres e contramestres da fábrica e introduziu novas regras nas relações capital/trabalho. A partir de 1916, a escola passa a funcionar nas instalações da casa do professor Sebastião Públio de Albuquerque, contando para isso, com a ajuda do governador Manuel Presciliano de Oliveira Valadão (1914-1918), que além de ampliar as instalações proporcionando toda a infraestrutura de uma escola. A construção da sede própria do Centro Operário Sergipano ocorre em 1920, ano em que a Escola Horácio Hora, passa a funcionar na sede da agremiação operária.
Encontrando-se no Rio de Janeiro em 29 de junho de 1920, Thales Ferraz segue no “Vasari” juntamente com Augusto César Leite e Raul Faro Rolemberg tendo como destino Nova York – Estados Unidos da América, onde permaneceria por aproximadamente quatro meses. Era comum quando Thales Ferraz retornava a Aracaju de suas viagens ser recepcionado pelos operários. Em setembro de 1920, uma comissão de operários da fábrica de tecidos, estava preparando uma recepção calorosa para o bem quisto diretor Thales Ferraz. Foram a redação do jornal Correio de Aracaju para se fazer representar na manifestação organizada pela comissão do centro fabril. Aceito o convite, o redator-chefe agradece a brilhante iniciativa e redige um pequeno comentário sobre sua relação de amizade com o diretor da fábrica, publicado na edição do dia 24 de setembro:
É que acima de tudo, essa justiça para com o homem que se interessa diretamente pela causa do operário, que vive das suas alegrias e sente as suas tristezas; para com um espírito fino que se impõe à estima dos grandes pelo seu trato fidalgo, também se não despreza de baixar até a intimidade dos pobres, com quem parece identificar-se pela natureza do seu trato despretensioso e franco.
Estamos, pois, decididamente ao lado desses operários em cujo coração se desperta tão nobres sentimentos de justiça. Hipotecamos-lhe o nosso apoio, e do seu lado iremos também aumentar o número dos que vão levar o preito das suas alegrias ao estimado diretor da Sergipe Industrial, o Dr. Thales Ferraz.
Retornando dos Estados Unidos no início do mês de outubro, o diretor da fábrica de tecidos Sergipe Industrial é recebido no Porto pelos operários, admiradores e imprensa local. Vejamos a publicação de A Cruzada de 3 de outubro, 1920:
De regresso de um passeio aos Estados Unidos, na 4ª feira finda, a bordo do Itaipava chegou a esta cidade o nosso distinguido amigo Dr. Thales Ferraz, digníssimo diretor da importante fábrica – Sergipe Industrial.
A recepção festiva sobremaneira carinhosa de que foi alvo, significa o to conceito devotada aos peregrinos dotes que sabe realçar em nosso meio como cavalheiro prestantissimo e chefe querido do notável estabelecimento industrial nesta capital.
A primeira notícia precursora da sua vinda, num frêmito entusiástico de vibrantes manifestações, os seus numerosos amigos e todo o pessoal da Sergipe Industrial se acordaram na brilhante demonstração da grande admiração e estima que certo se traduziu na sua recepção de inusitado brilhantismo.
Em seu desembarque além do crescido número de amigos e de uma comissão de operários, se fizeram representar o nosso Prelado pelo mons. Adalberto Sobral, o exmo. Sr. Presidente do Estado pelos Drs. Álvaro Silva e Mario Bastos pelo Dr. chefe de Polícia Dr. Júlio Leite.
Feito o desfile em bondes especiais até a estação da Chemins, o avultado prestito a pé, entre alas formadas de operários em jubilosas ovações ao seu ilustre gerente, entre abundantes chuveiros de flores e confetes se dirigiam para a residência do Dr. Thales Ferraz no Bairro Industrial, onde recepcionou as seguintes representações: – Chrylito Chaves, pelo operariado em geral, senhorinha Laura Lemos, pelo escritório da fábrica; senhorinha Judith Morais, pela Fiação; senhorinha Alyra Silva, pela Tecelagem e a menina Maria Berilla, pela escola Thomaz Cruz.
Apresentamos ao nosso eminente amigo as afetuosas visitas de boas-vindas.
Ficou determinada pela Comissão de operários encarregada dos festejos para a recepção de Thales Ferraz, que a missa em ação de graça pelo seu retorno do exterior, fosse celebrada no dia 5 de outubro, por estar próximo a data do seu aniversário. Vejamos o registro d’A Cruzada de 10 de outubro de 1920:
Celebrou-a o exmº e revmº Sr. mons. Adalberto Sobral, zeloso vigário geral do Bispado, que, antes de começa-la, dirigiu algumas palavras aos assistentes, salientando, a justiça das manifestações que lhe eram tributadas, e, congratulando-se, por fim, com os operários da Sergipe Industrial, em cujo coração vive o Dr. Thales Ferraz, rodeado da rica aureola da benemerência.
À capelinha da Sergipe Industrial afluiu enorme quantidade de amigos, cavalheiros e senhoras da nossa melhor sociedade.
Todos os operários rejubilavam-se pelo fato que então se comemorava.
Entre os sacerdotes vimos os padres Dr. Antonio Affonso da Silva, Solano Dantas de Menezes e cônego Floduardo Fontes.
A orquestra esteve a cargo das cantoras da igreja de S. Salvador, que muito correram para o brilhantismo da festa.
Durante o ato religioso estavam postadas à frente da capela da fábrica duas bandas de músicas – a do Batalhão Policial e a Joaquim Honório.
Após a missa, foi o Dr. Thales muito cumprimentado, tendo havido várias diversões como solenização daquele dia.
Reiteramos ao nosso distinguido amigo Dr. Thales Ferraz os votos de muitas felicidades, e aos operários da Sergipe Industrial nossos parabéns pelo desempenho do programa das festas com que homenagearam seu ilustre e esforçado chefe.
As comemorações do aniversário de Thales Ferraz, ao completar 43 anos, ilustre e benemérito chefe da empresa Sergipe Industrial, conforme registro do jornal A Cruzada de 9 de outubro de 1921:
Pelas 7 ½ começou a missa festiva de ação de graças. O revmº padre José Augusto proferiu antes da missa algumas palavras de congratulações.
O Santo sacrifício foi entremeado de suavíssimos hinos, primorosamente cantados por várias senhorinhas com acompanhamento de harmônio e violino. A concorrência foi notável.
À noite houve uma solene recepção à qual comparece grande número de operários, entre os quais é com justiça acatada e estimado o digno aniversariante.
Sociando com as ditas manifestações, cumprimentamos ao Dr. Thales Ferraz, renovando-lhe nossos votos de muitas felicidades.
Dois anos após sua morte, realizou-se na sede do Sport Clube Aracaju, importante sessão em homenagem ao saudoso industrial, Thales Ferraz, falecido em 27 de setembro de 1927. A sessão foi aberta por Aristides Rego presidente efetivo daquela associação desportiva, que depois de proferir algumas palavras, convidou o deputado Xavier de Oliveira para presidi-la.
Este, explicou o motivo da reunião, em seguida concedeu a palavra ao orador oficial, Edison Ribeiro, que se referiu demoradamente à vida do saudoso homenageado “que fora sempre, entre nós, um elemento de destacado valor”.
Morte de Thales Ferraz na Imprensa
1. Enfermo
Dr. Thales Ferraz – seriamente enfermo guarda o leito há alguns dias o Dr. Thales Ferraz um dos elementos de destaques nos meios sociais de Sergipe e membro da firma Cruz Ferraz & Cia, proprietária da fábrica de tecidos Sergipe Industrial.
O ilustre enfermo é grandemente estimado pelo seu altruísmo, e por isso são unânimes os votos que se formulam pelo seu pronto restabelecimento.
Visitamo-lo.
(Sergipe Jornal. Aracaju, Ano VII, nº 1.721, 26 de setembro, 1927)
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2. Falecimento
Dr. Thales Ferraz. Não obstante a recrudescência do mal que há dias lhe vinha minando o organismo, contra todas as prescrições médicas, conciliadas com os cuidados dos que disputavam a sua preciosa vida, não parecia estas tão perto o desenlace supremo da existência deste sergipano digno por todos os títulos, que se chamava Thales Ferraz. Mas o seu destino estava traçado e a sua missão na terra estava cumprida. Por isso é que a morte ceifou-lhe o fio da vida.
A sua perda é sensível, muito principalmente para aqueles que sentiam de perto a generosidade do seu coração.
Era uma alma boa, e por esse prisma é que registramos o infausto acontecimento que repartiu dolorosamente no seio da sociedade sergipana que o apreciava pelo seu justo valor. O Sergipe Jornal, registrando o lutuoso fato associa-se ao pesar profundo que consterna a família e os amigos do pranteado a sinceridade de sua mágoa.
(Sergipe Jornal. Aracaju, 27 de setembro, 1927)
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3. O enterramento do Dr. Thales Ferraz
Completando a notícia que ontem inserimos sobre a morte do ilustre industrial sergipano – bruscamente roubado ao convívio dos que conheciam a sua bondade, temos a acrescentar que o seu enterramento foi uma verdadeira consagração, pois, que não só o operariado das fábricas de tecidos, como todas as classes sociais compareceram, como prova inconcussa d estima em que tinham o pranteado extinto.
Foi, sem contestação, a maior homenagem fúnebre prestada a um morto, a que assistimos em nossa terra.
E ele bem o mereceu pela bondade que lhe exortava a alma.
(Sergipe-Jornal. Aracaju, Ano VII – nº 1.723, 28 de setembro, 1927)
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4. No Cemitério dos Pobres
Morreu um rico, que fez muitas caridades e não ficou pobre, disse-me penalizado, com os olhos marejados de lágrimas um bom e conhecido amigo. E, feito um ligeiro silêncio, impelido pela comoção que lhe embargou a voz, pediu-me ainda que dissesse algo sobre tão triste acontecimento, que veio ferir fundo a alma da pobreza, hoje, desamparada e só.
E estou aqui no comprimento da minha palavra, e no comprimento de um dever.
De minha palavra, porque a empenhar a quem muito me merece, e do dever porque, odiando o potentado que explora o pobre, manda a justiça que fale de um rico, que levantou no coração dos necessitados, um grande altar, que nunca mais desaparecerá.
Fez a caridade, como devia ser feita às escondidas, dando com a mão direita, sem ter conhecimento à esquerda.
E fez-la sem espalhafato, sem vaidade sem orgulho, sem o engrossamento costumeiro, sem o alarme de imprensa.
Bem merecidas, pois, foram as lágrimas derramadas no seu túmulo.
Tocante foi o cortejo e maior ainda a mágoa dos que levaram até o campo santo dos pobres, o corpo de Thales Ferraz.
E nele, com gratidão e com a prova verdadeira de sua popularidade, tomaram parte todas às classes, que, compungidas, se associaram a todas as manifestações de pesar.
Fez o bem e deixou fortuna, é o que basta para se dizer do seu espírito, que pelas 2 horas da madrugada de anteontem, voando, deixou o miserável mundo terráqueo.
Oh! Srs. capitalistas vistes de perto, quanto é agradável se proteger o necessário, dar mão a um amigo. E porque não seguia por esta mesma estrada?
Abrandai os vossos corações.
A vossa fortuna não será diminuída, em salvando aquele que precisa do vosso auxílio. Ao contrário, aumentar muito e muito.
Acima dela está a riqueza das boas obras, legado único, que haveis de deixar à vossa família.
E foi assim, vivendo com os pobres, morrendo ao lado deles e a eles se juntando no seu último sono, que Thales Ferraz se tornou o ídolo de todos, a bondade personificada.
Paz à sua alma e pêsames ao operariado da Sergipe Industrial, parentes e amigos.
Thales Vieira da Silva
(Correio de Aracaju. Ano XX nº 549, 29 de setembro, 1927.)
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5. Dr. Thales Ferraz
Sincera e profundamente emocionado, curvado ainda agora sob o peso da angustia crudelíssima que comoveu a alma sergipana com o passamento do Dr. Thales Ferraz que, muito cedo para sempre cerrou os olhos, deixando órfão da sua bondade e da grandeza do seu coração, àqueles que anteontem, na comunhão dum só pranto e duma só prece mais tornaram acérrima a dor no fundo negro da pungente, mas significativa apoteose do seu enterramento julguei deverem também os filhos da Bahia a essa dor se irmanarem através da sã imprensa de Aracaju.
Foi um cidadão emérito nos bons limites da moral e da justiça de chefe, que soube fazer do labor a tanta e acariciada preocupação de sua vida; e qual um enviado dos céus pra concretizar a necessidade do amor ao próximo soube erguer bem alta o nome de Sergipe Industrial.
Sergipanos aristocratas e humildes! A Bahia, na pessoa dos seus filhos, aqui, religiosamente, nos hipoteca o seu pesar sincero.
29.7.27
Nelson Carvalho
(Correio de Aracaju. Ano XX, nº549, 29 de setembro, 1927.)
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[*] É jornalista, pesquisador e professor universitário. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
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