GILFRANCISCO [*]

O nome de Márcio Rollemberg Leite me intriga desde 2008 quando iniciei as pesquisas sobre a formação do Partido Comunista em terras sergipanas. Foi seu companheiro de militância, o jornalista Célio Nunes (1938-2009) quem me contou algumas histórias e seus encontros políticos em uma de suas residências, localizada na Aruana. Mas seu nome era um mistério, ninguém tinha notícia do seu paradeiro.  Então, passei a colecionar textos do homenageado publicados em diversos periódicos, desde a época estudantil iniciada em 1934, alguns dos textos incluídos no livro Agremiações Culturais de jovens intelectuais na Imprensa Estudantil, publicado pela EDISE, 2019.

De família tradicional e numerosa, descendente da linhagem dos “Leites”, os primeiros registros com o sobrenome Leite datam de 1258.  Filho do médico Sylvio Cezar Leite (1880-1943) e Lourença Dias Coelho e Melo Rollemberg (filha do Barão de Itaporanga) o casal tiveram cinco filhos: Gonçalo Rollemberg Leite (1906-1977), Francisco Leite Neto (1907-1964), José Rollemberg Leite (1912-1996), Alfredo Rollemberg Leite e Márcio Rollemberg Leite (1919-1980) e do segundo casamento com Guiomar Sampaio Leite nasceram os irmãos Fernando Sampaio Leite, Josefina Leite Campos e Clara Leite Resende (1940). Cada um dos seus filhos teve destaque em fortes áreas de articulação e poderio representativo do estado de Sergipe.

Márcio Rollemberg: importante na formação das ideias políticas no Estado

Nascido em Riachuelo (SE) há 29 quilômetros de Aracaju em 14 de abril de 1919 no Engenho Angico. Márcio Rollemberg Leite, intelectual importante na formação das ideias políticas no Estado, estudou as primeiras letras em escolas particulares, em Riachuelo e em Aracaju, fazendo o curso secundário no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, passando pelo Colégio Tobias Barreto, em 1935, onde dirigiu com outros colegas o jornal estudantil Boletim nº 2 órgão do Grêmio Lítero-Científico Tobias Barreto, e finalmente matricula-se no curso complementar do Ateneu, onde teve como colegas Joel e seu irmão Paulo Silveira, João Nou e outros. Bacharelou em Direito pela Faculdade Nacional, do Rio de Janeiro, tendo atuação de destaque na União Nacional dos Estudantes – UNE. Regressando a Sergipe, fixa residência em Aracaju, onde inicia sua carreira de advogado e jornalista.

Militância Estudantil

Desde muito cedo, iniciou-se nos movimentos de agitação política estudantil, escrevendo artigos e poemas para os jornais estudantis, pessoa ligada ao estudo e à inteligência de um modo geral. O Boletim nº 2, Aracaju, Ano I, outubro, 1935, 4 páginas, dirigido por José Barreto, Márcio Rollemberg, Sindulfo B. Filho, Gustavo Dantas, Paulo Garcez e Durval Maynard. Vejamos o editorial, Umas Palavras:

Parece que dentre todas as classes sociais a estudantina é a que mais possui representantes da inconstância. Isto, ao menos em Sergipe, passa na fechadura da observação tal qualmente a chave das afirmações. Serve de exemplo aos vistos períodos, o caso deste Boletim que possui atrasadíssimo o seu segundo número.

Entretanto, não se culpe a diretoria. O desânimo dos colegas que em maioria desprezam a leitura e, portanto, não chegam a assinar um jornalzinho recreativo isto é que detém a marcha do órgão fundado para defesa e honra da mocidade.

Contudo, agora, com a prematura morte de Lyses não podia deixar de sair a luz este novo número do Boletim, que dará habilmente ao ilustre extinto o adeus saudoso dos sócios do G.L.C.T.B. E sai o número, ainda que sem o auxílio daqueles tão números alunos que não são principais leitores. Sai com o auxílio infalível das nobres autoridades do Colégio Tobias Barreto.

A morte que levou ao saudoso Lyses, não sabia talvez que inúmeras eram as pessoas que iriam ao enterro dele. Na verdade este foi descomunal. Pela manhã da sexta-feira, a pé colegiais e gente de várias classes prestaram homenagem ao morto em o acompanhando ao cemitério.

Aqui, antes do sepultamento, falaram pelo Ateneu (lugar onde estudava Lyses) Abelardo Horta, Rivaldo Oliveira, Gerson Pinto, Lauro Fontes, Adalberto Campos, Neide Albuquerque e Julieta Dias pelo Salesiano. Raul Leite e José Bittencourt, pelo Tobias Barreto, José Barreto Fontes (representando o Colégio) e Márcio R. Leite (representando o Grêmio a quem pertence este Boletim). Todos os discursos pronunciados mostraram ao público quanto Lyses, era querido por qualquer um dos oradores. Aqui vai um dos lidos discursos, e que, portanto, encerará as mesmas palavras que encerrou à hora fúnebre.

Aliás, é o do representante do Grêmio Lítero-Científico Tobias Barreto.

Provavelmente no início de setembro de 1937, os colegas Wilson Lima, Paulo Silveira, Abelardo Horta e Márcio Rollemberg Leite, alunos do Ateneu Pedro II, enviaram carta ao poeta mineiro Murilo Mendes (1901-1975), questionando alguns pontos sobre o integralismo. Católico ligado ao grupo do sergipano Jackson de Figueiredo (1881-1928), o poeta Murilo Mendes responde carta datado de 6 de outubro (Rio de Janeiro) a qual foi publicada no Correio de Aracaju com o seguinte título: “Carta aos jovens estudantes que combatem s extremismos”:

Vocês me desculparão por eu não lhes ter respondido há mais tempo. Ultimamente minha vida está complicadíssima. Além de tudo sou sujeito a uma gripe medonha que, quando me pega não quer largar nem a pau, e que me impossibilita e escrever nem que seja uma linha. Tanto assim que nos dois últimos números de Dom Casmurro não publica coisa alguma.

Não me tratem de Senhor, deixem a solenidade de lado. A carta de vocês me tocou profundamente – tanto mais quanto não os conheço pessoalmente. Vejo assim que meu esforço não tem sido útil. Tem repercutido e talvez possa causar utilidade aos outros. Não me move nenhum interesse subalterno, nem paixão partidária ou pessoal. Não conheço nenhum dos chefes integralistas. Move-me somente o respeito às instruções da Santa-Sé, guia seguro da Igreja Católica, depositaria da verdade total que não é outra senão a doutrina de Jesus Cristo, Deus encarnado o “único” Redentor da humanidade. O catolicismo não se identifica com nenhum partido, regime ou doutrina política, por mais aperfeiçoados que sejam. O primado da vida católica não reside na moral, mas sim na transcendência as virtudes teológicas, a Fé, a Esperança e a Caridade. A política – como a própria moral – é um aspecto secundário do catolicismo. A maioria dos integralistas são maurrasianos – partidários da fórmula “politique d’abord”, condenada pela Igreja.

Por outro lado, o comunismo é uma doutrina perversa, errada, unilateral – que não se sustenta hoje nem ao menos diante da ciência positiva. Se fosse aplicada, aumentaria o desespero n coração humano. Seus criadores são homens falíveis como nós, e se contradisseram muitas vezes. Só em Jesus Cristo o caminho, a verdade, a vida em Jesus Cristo cujas palavras não passarão, embora passem o céu e a terra – Só nele os homens poderão encontrar orientação definitiva para a sua vida total. O comunismo vive das parcelas cristãs de verdade que encerra. Mas quem possui o todo, não precisa de uma parte. Eis porque não sou comunista.

Agradeço-lhes com toda sinceridade este movimento espontâneo de vocês. Ele calou profundamente no meu espírito. Tenho-os desde já como amigos.

Aqui fico ao dispor de todos, enviando-lhes um afetuoso abraço. Murilo Mendes.                                                    

A militância na imprensa estudantil fez com que Márcio Rollemberg Leite participasse de inúmeras publicações. Em 1944 ele escreve especialmente para A Voz do Estudante o artigo Recordando o Ateneu, o qual foi publicado na edição de nº6, 30 de novembro..

Começo pedindo a vocês, os colegas de hoje, que o clamem sempre “velho Ateneu”. Os ecos saudosos de uma longínqua opinião pública me disseram no Rio que estudantes desta geração sergipana avançam e trunfam como os seus colegas de outrora. Não foi em vão que uma plêiade de moços fez o Grêmio Clodomir Silva um estudium de ruídos libertários. A Voz do Estudante já falava naquele tempo. Suas colunas adolescentes marchavam como átomos brilhantes do movimento modernista. Digo apenas pelo reflexo magnífico que me chegou daquela quadra do Ateneu. Não fui dos que se deixaram abalar de perto por aquelas primeiras emoções da cultura. Mas o Colégio Tobias Barreto, a despeito de todas as ressalvas, era o maior aliado do Ateneu. Os dois velhos estabelecimentos mantinham um intercâmbio, quase inacreditável, em Aracaju. Infelizmente, no Tobias, dominava, a princípio, a mística dos bons alunos, filatelistas de vários sem todos os meses. Não era possível organizar o Grêmio sem destacar-se à frente um estudante de boas notas. O Grêmio tinha de esperar que o mocinho retirasse os pés da bacia onde espinhava a memória e a força de vontade. Foi com muito trabalho que fundamos o “Silvio Romero” e lhe imprimimos um programa sem qualquer subordinação às cadernetas de notas nos estudos.

No Ateneu, ninguém queria saber se um Célio Araújo ou Joel Silveira tinha credenciais como “bom aluno” para escrever ou discursar. O Grêmio Clodomir Silva era um misto de idealista e foliões que falavam em solenidades e davam gargalhadas no oitão do Palácio. Realizavam mesmo um programa de cultura moça. Ninguém podia com eles. O Joel regou-se na presidência do Grêmio. Queria ser um presidente perpétuo, um Machado de Assis. Levantou-se contra ele uma oposição. Até o irmão Paulo Silveira falava nas retretas em dar um tombo no jovem caudilho as letras. Na hora ninguém o derrubava Joel prosseguia dando vida ao Grêmio com o apoio traquina da oposição. Entre os oposicionistas, estava Célio Araújo com a sua cabeleira romântica e a sua pena simples de ensaísta prematuro. Célio merece a nossa recordação mais avançada. Doente retirou-se do Ateneu em Maruim pouco depois que sumira das letras, sumia para sempre da vida. Teve a mesma sorte de Lyses Campos, o poeta jovem que sorriu até a morte. Estes dois amigos da cultura moça merecem ter os seus retratos na sala do Grêmio Clodomir Silva. São dois sócios de honra que muito fizeram por ele.

Quando saiu a turma de Joel e Lauro Fontes, o Grêmio continuou marchando com o mesmo espírito de luta. Ao matricular-me no curso complementar do Ateneu, encontrei Paulo Silveira, João Nou e outros à frente. Havia lá dentro gente de ideias desencontradas. Gente de ideias que em todo o Brasil se atracavam nas ruas. Paulo e João Nou, com rapidez elétrica, arrancaram-me um trabalho sobre Santos Dumont. Mas o momento virava s olhos para outras bandas. O Centro aparentemente arrefeceu a sua luta. Na verdade, ele mudou o seu campo de batalha para a praça pública. O nazi-fascismo que, sondava o destino de todos os povos, tinha-se azougado, ao extremo, como um decifra-se ou devora-te contra a cultura. Os estudantes foram em massa ao encontro do monstro verde. Professores mal orientados quiseram reprimir o Clodomir Silva. Foi inútil. Ele ressurgiu dos escombros da crise moral como a cultura vai restaurando-se gloriosa, de sob as ruínas da velha Europa libertada. O mesmo diretor que os alunos do Ateneu reconquistou é um grande amigo do Grêmio. O Estado, pela primeira vez, patrocina A Voz do Estudante, custeando-lhe as despesas. Compreendeu-me mesmo que os moços idealistas querem somente construir e que os moços destemidos em todo o mundo se molham de suor e de sangue para a redenção da liberdade e da cultura.                      

Após o falecimento do poeta Enoch Santiago Filho (1919-1945) em 7 de fevereiro,  o Grêmio Cultural Clodomir Silva para homenageá-lo, promoveu um Concurso de poesia social, para incentivar a cultura no meio estudantil, patrocinado pelo Dr. Enoch Santiago. A comissão julgadora do Concurso foi composta pela professora Ofenísia Soares Freire, Walter Sampaio e Márcio Rollemberg Leite e a entrega dos prêmios marcada para outubro. O aluno vencedor foi Florival Ramos de Souza que arrebatou a 1ª e 2ª colocação com os poemas: Despertar da Manhã e Canto da América. O amigo Mário Rollemberg, abatido pela perda publica no Diário de Sergipe, 8.fevereiro o artigo Adeus, Enoch.

Em 1943, em meio à repressão exercida por Getúlio Vargas, a UNE promove mobilizações estudantis em todo o país. A UNE realiza, entre outros movimentos, a Campanha Universitária Pro-Bonus da Guerra, Campanha Pro-Banco de Sangue, e o combate à Quinta Coluna. A Faculdade Nacional de Direito sofrerá a influência da dicotomia esquerda-direita que reinava na instituição, com a disputa entre os partidos acadêmicos “Movimento pela Reforma” de cunho socialista, e a “Aliança Liberal Acadêmica”, de direita. Na edição de 22 de agosto de 1942 do Diário Carioca entrevista o acadêmico Márcio Rollemberg Leite que fala sobre a ação dos estudantes na hora presente, alertando o povo contra o perigo da 5º Coluna e afirmam que os acadêmicos de Direito pretendem destruir o nazismo no Brasil.

Em Sergipe, Mácio Rollembeg Leite divide a direção do Diário de Sergipe com João Maynard Barreto, desde 1944 até a edição de 3 de março de 1945 e passa a militar no Jornal do Povo (órgão ligado ao Partido Comunista) a partir de janeiro de 1946 permanecendo até a edição de 12 de agosto do mesmo ano. Em junho de 1948 Márcio Rollemberg trava polêmica com o jornalista udenista Paulo Costa, diretor do Sergipe-Jornal, através do Diário de Sergipe. E publica: Paulo Costa e o furto da Malaria – dança de protelações suspeitas:

Jornal do Povo (1945-1948)

Tendo iniciado a sua publicação no final do mês de novembro, o semanário sergipano foi dirigido por vários jornalistas, começando pelo advogado Márcio Rollemberg Leite seguido pelo filósofo João Batista Lima e Silva e finalizando com o advogado Carlos Garcia. O periódico alcançou em edição de abril de 1946 uma tiragem de dois mil exemplares, caso raro para um semanário. A única coleção existente no Estado, pertencente ao acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, encontra-se incompleta iniciando a partir do número 7, Ano I, 3 de janeiro de 1946 indo até o nº279, Ano III, 31 de dezembro, 1947. Foram muitos os seus colaboradores durante os três anos de existência  alguns como Austrogesilo Porto, Aluysio Sampaio, Armando Domingues, Astrojildo Pereira, Antonio Clodomir, Bonifácio Fortes, Camilo de Jesus Lima, Carlos Garcia, Franco Freire,  Florival Ramos, Hugo Tavares, Hernane Prata, J. Santiago, José Waldson Campos, João Batista Lima e Silva, Luiz Carlos Prestes, Mauricio Grabois, Márcio Rollemberg Leite, Monteiro Lobato, Nélson de Araújo, Pedro Pomar, Robério Garcia, Santos Morais, Walter Sampaio e outros.     Fechado pela polícia em 14 de maio de 1945, o Jornal do Povo impetrou uma ordem de habeas-corpus ao Egrégio Tribunal de Apelação, tendo como advogado da defesa o militante comunista Carlos Garcia. O jornalista Paulo Costa, diretor do Sergipe-Jornal, contesta a invasão do jornal popular, através do artigo “Uma Medida Arbitrária”

Flagelos e Esperanças

Capa do livro Flagelos e Esperanças Fotos: Arquivo Pessoal

Após o Golpe militar e civil de 1964, quando o juiz de Gameleira (PE) Márcio Rollemberg Leite foi preso, assumiu o exercício do cargo de juiz de direito desta Comarca, como segundo substituto, o bel, Claudio Américo de Miranda, da Comarca de Cortês. Segundo informa o Diário de Pernambuco em sua edição de 23 de maio “Três juízes de Direito enquadrados na Lei de Segurança: 21 processos” entre eles estavam os nomes de Márcio Rollemberg Leite (juiz de direito da Comarca de Gameleira, na zona da Mata), Edgar Homem de Siqueira (juiz de Direito da Comarca de Olinda) e João Batista Neto (juiz de Direito de Barreiros).

Em 1978 Márcio Rollemberg Leite publica pela Revista Continente Editora (RJ), 204 p. o livro de poemas Flagelos e Esperanças e fez lançamento em Aracaju conforme registro da Gazeta de Sergipe em 27 de dezembro deste ano:

Com a presença do Governador José Rollemberg Leite, do governador eleito, Augusto Franco e do Prefeito João Alves Filho, além de mais de uma dezena de autoridades e intelectuais sergipanos, o escritor Márcio Rollemberg Leite lançou em Aracaju o seu livro Flagelos e Esperanças. A solenidade de lançamento foi realizada às 17h30min horas de ontem, na Galeria de Artes Álvaro Santos, numa promoção conjunta da Universidade Federal de Sergipe, Conselho Estadual de Cultura e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Na oportunidade em nome dos promotores falou o Presidente do Conselho de Cultura e Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UFS, Dr. Antonio Garcia. O livro é uma coletânea de poemas que retrata em versos a realidade nordestina, um poema de amor e patriotismo, e sobre a obra assim se expressou Othon Garcia na época Presidente da Academia Carioca de Letras e da Academia Brasileira de História: É, como já foi dito, uma cartilha cívica e humana do Nordeste. O lançamento atraiu grande número de intelectuais.

Quando o juiz de Gameleira (PE) Márcio Rollemberg Leite foi preso, assumiu o exercício do cargo de juiz de direito desta Comarca, como segundo substituto, o bel, Claudio Américo de Miranda, da Comarca de Cortês. Segundo informa o Diário de Pernambuco em sua edição de 23 de maio “Três juízes de Direito enquadrados na Lei de Segurança: 21 processos” entre eles estavam os nomes de Márcio Rollemberg Leite (juiz de direito da Comarca de Gameleira, na zona da Mata), Edgar Homem de Siqueira (juiz de Direito da Comarca de Olinda) e João Batista Neto (juiz de Direito de Barreiros). Segundo depoimento de Fernando Augusto de Mendonça Filho, preso em 8 de abril de 1964 em Pernambuco diz que:

Nas masmorras da velha Casa de Detenção, a única coisa boa, foi a convivência, naquela triste situação, com homens da estirpe e do caráter de um Jáder de Andrade, Miguel Dália da Silveira, Zanoni Lins, Drumond Xavier, José Bonckvis, Luiz Iglésias de Holanda Cavalcanti, Jarbas de Holanda Cavalcanti, Márcio Rollemberg Leite, Edgar Sobreira Moura, Gerson Maciel Neto, Bianor Silva Teodósio, todos os companheiros de cela e de tantas outras insignes figuras da militância política e da intelectualidade pernambucana.

Outro companheiro de militância foi o Desembargador Edgar Sobreira, que em depoimento de 19 de novembro 2013 – Comissão Estadual da Memória e Verdade – Dom Helder Câmara – Pernambuco, diz que: lá atrás, há alguns anos passados, Márcio Rollemberg Leite, tinha sido estudante na Universidade do Rio de Janeiro, e talvez um dos fundadores da UNE. Eram tidos como revolucionários e comunistas, o seu passado deve ter influído nessa senda de crimes e ele foi preso, não sei o destino, se ele foi morto ou para onde foi. O pernambucano Aldo Lins e Silva, militante comunista e amigo de Luiz Carlos Prestes e Carlos Marighella, formado pela Faculdade Nacional de Direito do Rio em 1943, foi colega de Márcio Rollemberg e ambos foram convocados para a guerra, no instante em que se formava a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Ambos escaparam por pouco de enfrentar os nazifascistas na Europa.

Militante comunista, tanto Márcio Rollemberg Leite quanto João Batista de Lima e Silva figuras que já desapareceram, mas que exerceram influência muito grande nas ideias da esquerda em Sergipe. Márcio colaborou em alguns periódicos: Revista Época (SE); Diário de Sergipe; Correio de Sergipe; Boletim nº2; O Seminário (RJ); A Juventude (SE); Voz do Estudante (SE); Diário Carioca (RJ) e outros. Márcio era casado com Haydée Gouveia Leite, pais do Desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe – TJSE Alberto Romeu Gouveia Leite. Desquitado e domiciliado no Rio de Janeiro, Márcio Rollemberg Leite faleceu aos 61 anos, as 10h00min horas em 25 de maio de 1980 num hospital de Aracaju, vítima de câncer de próstata, sendo seu corpo sepultado no Cemitério Santa Isabel.

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[*] É jornalista e professor universitário. E-mail:  gilfrancisco.santos@gmail.com