GILFRANCISCO [*]

No final do século XIX, o poeta maranhense Sousândrade, – Joaquim de Souza Andrade – republicano da velha guarda, que redigiu em New York “O Globo” com José Carlos Rodrigues (1844-1923), recebera de Camilo Castelo Branco, no Cancioneiro, a afirmação de que era o mais imaginoso poeta americano. Esse poeta curioso recolheu-se, depois de 15 de novembro, à companhia dos livros na sua quinta “Vitória” em São Luiz, cercada de um muro enorme, que parecia de fortaleza. Diz um dos anúncios de 10 de abril, 1897, publicado na Pacotilha:

“Quinta Victoria

Vende-se por 70 contos de réis esta grande propriedade em S. Luiz do Maranhão, com frentes sobre a Praça da Justiça e sobre o rio Anil. Os pretendentes poderão dirigir-se ou mandar suas propostas até fins de maio ao proprietário.

J. de Sousandrade”

Sem recursos, começou a vender o muro, aos metros, para material de construções. Republicano desde muito jovem , logo após a proclamação da República, dirigiu ele a Deodoro um telegrama assim:

– República proclamada paus d’arco floridos”…

                                                           ***

Fotos: Reprodução

Nascido de família aristocrática a 9 de julho de 1832 no Maranhão,  na Vila de Guimarães, comarca de Alcântara, na fazenda paterna de “Nossa Senhora da Vitória”, às margens do rio Pericumã, ano em que foi fundado a 14 de setembro o jornal O Homem de Cor, o primeiro da imprensa negra brasileira. Joaquim de Souza Andrade, conhecido como Sousa Andrade ou ainda Sousândrade, como gostava que o chamassem, nãose adaptou à vida da província natal.

Sousândrade, um dos percussores da poesia moderna no mundo. Com uma linguagem poética inteiramente inovadora, e incompreendida, seu livro cujos exemplares são raríssimos hoje, não foi aceito. Morreu em São Luiz tido como louco pelos reacionários orientadores de literatura de então. Sousândrade e um caso inteiramente à parte na poesia brasileira e de que o Brasil pouco sabe, apesar da redescoberta pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos (1929-2003) que publicaram em 1964 ReVisão de Sousândrade. [1] O próprio Sousândrade acabou por aceitar com alguma melancolia o prazo de tempo que parecia indispensável para que o compreendessem:

“Ouvi dizer por duas vezes – anotou ele – que o Guesa Errante (1858-1884) será lido cinquenta anos depois. Entristeci – decepção de quem escreve cinquenta anos antes”. O poeta quase acertava: seriam precisos mais de sessenta anos, a partir da sua morte, para que a obra sousandradina merecesse a atenção que a ela devíamos.

O livro dos irmãos Campos é um trabalho paciente, arguto, minucioso e erudito, um verdadeiro levantamento crítico-histórico, tudo isso graça ao devotamento do poeta e pesquisador mineiro/baiano, Erthos Albino de Souza (1932-2000) colecionador de todas as edições de Sousândrade. O livro pretende propor a revisão, em termos modernos, da obra esquecida do romântico maranhense. O poeta teve uma vida acidentada e dramática, tendo viajado muito pela Europa e os Estados Unidos. Aos vinte anos subiu o Amazonas e observou os costumes dos índios jurupari, que depois utilizaria no Canto II do poema O Guesa para em seguida mudar-se para Paris, diretamente para a Sorbonne, onde forma-se em letras e em seguida o curso de engenharia de minas em Paris. Logo se tornou conhecido nos círculos literários por suas ideias republicanas. Sousândrade passou a vida viajando entre Europa e América e sua visita a Londres foi registrada num artigo republicano com ataques à Rainha Vitória.

Reprodução Capa do livro

Em 1857 retornando ao Maranhão, onde casa-se e desse matrimônio nasce sua única filha, Maria Bárbara. É desse ano a publicação do seu primeiro livro no Rio de Janeiro, Harpas Selvagens. Insatisfeito com a deformidade social universal, Sousândrade adquire uma identidade nítida, buscando dentro de si energias para escapar à condenação social estabelecida, numa época difícil de definir e localizar exatamente sua obra. Onde sua linguagem inovadora situava-se na esfera mais alta do Romantismo que sempre esteve a serviço da burguesia nacional, onde a boemia estudantina predominava. Apesar de ser um poeta da última fase romântica da nossa literatura, era moderno no tempo, quebrando toda estrutura da linguagem poética, que mais tarde serviria de base ao modernismo.

O fenômeno sousandradino apresenta um constante desenvolvimento ativo, dentro e um processo evolutivo ao desespero agônico da clandestinidade de sua intensiva carga poética, constituindo uma crescente renovação dos processos estilísticos. Sobre a rebeldia poética do maranhense, podemos afirmar sem receio que na busca ansiosa do patético ele consegue a construção do fenômeno linguístico, do qual subverte a linguagem visivelmente identificadas em seus versos.

Possuidor de uma obra complexa, extremamente avançada para a época e uma vida cheia de amarguras ainda que desprezado por seus contemporâneos, ele foi mais longe e seu valor poético antecede as experiências de James Joyce (1882-1941) e Ezra Pound (1885-1972), revolucionando a sintaxe e a ortografia, rompendo com todas as estruturas, muito embora as publicações dos seus livros não tenham tido seus merecidos valores, passando despercebido por muito tempo. O poeta escrevera numa linguagem que ultrapassava os moldes do romantismo. O próprio Sousândrade tinha conhecimento de que sua poesia estava avançada para sua época.

Em 1871 estabelece residência em Manhattanville, próxima a cidade de New York nos Estados Unidos, aonde vem a ser Secretário do Periódico O Novo Mundo, jornal este que era editado em língua portuguesa. Três anos mais tarde edita o primeiro e único volume das Obras Poéticas, compreendendo os livros já publicados: Memorabilia, Eólias, Harpas Selvagens e Inéditos, os quatro primeiros Cantos do Guesa Errante, que a partir da edição inglesa, provavelmente publicada em 1884, quando foi depositado a 19 de abril no Departamento de livros Impressos da Britsh Museum para efeito de Copyright, o poema passa a ser apenas O Guesa.

No Canto II deste poema encontramos construções técnicas que exigem do leitor certo conhecimento da língua. Nele Sousândrade mistura português, latim, espanhol e vocábulos indígenas. Havia ele entre 1853/1857, viajado para os Estados Unidos e Amazonas, pesquisando sobre o culto do Jurupari, a qual usou neste Canto. Em 1877, no prefácio do Canto VIII, encontramos ainda rimas em vários idiomas: português, inglês, francês, alemão e grego.

Minado pelas ideias abolicionistas e republicanas, não compactuou com as injustiças sociais nela existentes e no inferno financeiro de Wall Street (nascimento do capitalismo ianque), episódio do Canto X da edição londrina, descrito de maneira fascinante onde denuncia cenas das especulações do capitalismo norte-americano com a Bolsa de Valores de New York, onde a ganância pelo dinheiro leva a degradação do homem: políticos e funcionários administrativos corruptos; Especulações de ações; Corretores; Empresários, etc. Quem assistiu ao filme L’eclisse (produção ítalo-francês, 1962) do cineasta italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007), terá uma ideia atualizada do inferno sousandradino, numa sequência na Bolsa de Valores.

O panorama literário dos versos indissolúveis e de difícil acesso, porque não dizer erudito, em vez de amaldiçoarem de obscuro, encontrava-se dentro de um novo estilo poético, causando escândalos com o livro Eu, do paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) com suas inovações audaciosas, onde o preconceito e a tradição levariam ao desprezo, e por isso é o único poeta que não sobreviveu ao Romantismo.

Manuscritos

Foto: Reprodução Capa do livro

Em 1951, quando foi inaugurado o atual prédio da Biblioteca Pública do Estado do Maranhão, teve-se notícia pela primeira vez, sobre a existência dos manuscritos da Harpa de Ouro, obra inédita. Por intervenção da Diretora e do Presidente da Academia Maranhense de Letras, na pessoa de Clodoaldo Cardoso, determinou que fossem datilografadas três cópias dos originais. Com o passar dos anos torna-se público que o manuscrito fora localizado pelo crítico Luiz Costa Lima. Das cópias datilografadas, uma delas só foi encontrada na Faculdade de Direito em 1966. Entre os anos de 1966 e 1968 encontrava-se extraviada mais uma vez. Somente em 1969 é localizada casualmente nos arquivos da Academia pelo Cônsul Reis Perdigão e desta vez publicado numa edição incompleta dirigida por Jomar Moraes, patrocinada pela Fundação Universidade do Maranhão.

O gênio Sousândrade produziu uma obra ambiciosa por sua genialidade, jamais produzida na América Latina.  Tendo como pano de fundo para a sua  elaboração não somente o quadro brasileiro, mas os continentes Americano e o Europeu, onde o poeta viveu por algum tempo e pode observar o desenvolvimento do capitalismo industrial e social, suas contradições e seus fracassos. Por exemplo, O Guesa Errante publicado em Londres em 1874, saiu os três primeiros cantos. Esta edição de apenas duzentos exemplares, o que explica a dificuldade de estudar-se o poeta maranhense, que continua hoje ignorado não apenas pelo chamado grande público como pelas elites intelectualizadas. Este poeta maldito que uma vez por semana passeava serenamente pelas ruas de São Luiz com sobrecasaca escura, cartola, de rosto liso, elegância sóbria, com um riso fundido em bondade e melancolia foi considerado, na época, desequilibrado por alguns e gênio por outros. Esse gênio prematuro de imaginação audaciosa e de uma poética tumultuada, até hoje é difícil assegurar todo seu valor poético, e talvez essa dificuldade tenha mantido por todos os anos o silêncio em torno de seu nome injustiçado e esquecido. Mas graças a nomes como Silvio Romero, Fausto Cunha e o monstruoso levantamento crítico publicado pelos irmãos Campos in ReVisão de Sousandrade (1964) além do livro de Frederick G. Williams e Jomar Moraes, Sousândrade: Inéditos, publicado pelo Departamento de Cultura do Estado do Maranhão em 1970 e muito recentemente dos mesmos autores Poesia e Prosa Reunidas de Sousândrade-Edições AML, 2003. Outras publicações são contribuições para uma biografia de Sousandrade: Tradição e Ruptura: O Guesa de Sousândrade (1979) e Épica e modernidade em Sousândrade (1986) de Luiza Lobo e A visão do ameríndio na obra de Sousândrade (2004), de Claudio Cuccagna.

Em dezembro de 2018 dando continuidade as pesquisas sobre dois poetas, o simbolista baiano Pedro Kilkerry (1885-1917) e o romântico maranhense Sousandrade (1833-1902) foram localizados por este autor, novos textos esparsos da prosa sousandradina na Fundação Biblioteca Nacional: Centelhas (O Novo Brazil, 2 de outubro, 1889); Centelhas Republicanas (O Novo Brazil, 11 de novembro, 1889); O Povo do Norte da República (Diário do Maranhão, 30, de novembro, 1893); À Companhia Industrial, ao Dr. L. G. e ao Governador do Estado (Pacotilha, 21 de abril, 1894); Confirmações Republicanas-I (Diário do Maranhão, 14 de novembro, 1894); Confirmações Republicanas-II (Diário do Maranhão, 14 de novembro, 1895); Ao Governo do Estado (Pacotilha, 13 de fevereiro, 1896); Democracia Pura (Jornal do Comércio, Rio, 19 de janeiro, 1897).

Ideais

Sousândrade resiste ao tempo com sua abertura poética para o universo e nele existe uma concepção preestabelecida do mundo e não fora compreendido pela Geração do Romantismo. Participante dos problemas sociais e políticos internos e externos, Sousândrade já era conhecido no país por suas ideias republicanas, anos antes da publicação de Harpas Selvagens. Quando escreveu Harpa de Ouro, entre 1889-1899, Sousândrade dedicou a Joaquim Nabuco, que constitui uma saudação ao novo governo, uma louvação à República e nele evoca figuras ligadas à América: Colombo; Cabral; Cortez e ainda líderes republicanos e de libertação: Washington; Tiradentes; Bolívar e outros. Relembrando que certa vez quando visitava Londres, ora intimado a deixar o país por ter ele num artigo criticado a Rainha Vitória.

Durante o primeiro aniversário da República, candidata-se ao Senado, mas renuncia de sua candidatura para pacificar disputas eleitorais. É idealizador da Bandeira do Estado do Maranhão; cria a coluna Seção Republicana no Jornal O Globo de São Luiz, no qual publicou inúmeros artigos; foi escolhido para Presidente da Comissão encarregada em elaborar o projeto da Primeira Constituição da República do Maranhão e preocupava-se ainda com a fundação de uma Universidade popular. Sousândrade procurou dar sentido prático em tudo que idealizou. A República era o seu sonho e ele nos fala da distribuição de suas terras a antigos escravos: “Distribui-lhes terras – manhãs Da República o ente adora/ Símbolos teus, meus talismãs”.

Em 1893 Sousândrade deixa na redação da Pacotilha um exemplar do recém-publicado livro Novo Eden. Vejamos o registro do redator:

“Como o Guesa Errante, trabalho anterior do Sr. Sousandrade, o poema com que ele acaba de brindar-nos, é uma obra literária que demanda vagar para ser apreciada na leitura.

Desse vagar não dispusemos infelizmente d’ontem para hoje, o que nos priva de acompanhar a notícia do brinde que recebemos, de algumas palavras relativas ao tema do poema e seu desenvolvimento.

Como será uma falta de delicadeza demorar os nossos agradecimentos ao ilustre literato, não temos outro remédio senão fazê-lo por este modo, do qual nos servimos igualmente para dar conhecimento ao público da contribuição literária de largo fôlego, com que fecha-se entre nós o ano de 1893.

Foto: Reprodução Capa do livro

O nome do Sr. Sousandrade, é de sobra conhecido no mundo das letras, dispensa, além disso, qualquer juízo da imprensa sobre a sua produção”.[2]

O Novo Éden, Poemeto da Adolescência – longo poema em sete cantos, escrito entre 1888-1889, publicado em 1893, em homenagem à nascente República. Sobre essa impressão, encontramos no jornal Pacotilha, edição de 19 de junho do ano seguinte um esclarecimento de Sousândrade:

“Publicados os fatos (nºs. 88 e 94 deste jornal) não por este, autorizamos o impressor do Novo Éden (restituindo-nos o prólogo que não foi impresso) a cobrar ele mesmo dos diretores da Industrial Maranhense, ou de seu irmão gerente que a representa, a cota que lhe devemos; encontrando as dívidas à proporção do abatimento que nos propôs fazer a nós e que também faremos a eles. Com os foros que nos devem do nosso terreno foi encomendada a edição.

Sousândrade”.

Sua vida e sua obra não se encontram no mesmo tempo. O poeta encerra sua carreira literária arruinada e nos últimos anos de vida, para ser preciso, 1899, vê obrigado a vende as pedras do muro da arruinada Quinta da Vitória, para sobreviver. No inicio de 1902 seus alunos irão encontrá-lo abandonado, enfermo, em situação de miséria em sua Quinta, de onde é transferido para o Hospital Português, vindo a falecer em 21 de abril do mesmo ano.

É difícil saber que continua a existir uma lacuna imperdoável na historiografia literária e política brasileira, devendo haver por parte de críticos e editores maior preocupação com nomes como: Qorpo-Santo, Pedro Kilkerry, Sosígenes Costa e Euclides da Cunha, esse último mais citado que lido, mas raros são os críticos que se lançam a tal missão. Pelo atual interesse da crítica é possível mantê-lo vivo, apesar de desconhecido, ou melhor, pouco lido, precisamos ressuscitá-lo, devolvendo ao lugar que lhe cabe.

Consagração Póstuma

Vejamos trecho do que foi dito na edição de 1º de maio de 1902 da Pacotilha (Jornal da Tarde), sobre as exéquias celebradas na igreja de S. Antonio, em memória do Sousândrade:

“E essa ausência notada, principalmente dos grandes da terra, não nos admira, nem  nos vai amesquinhar aos olhos dos estranhos, porque não se ia sagrar um vulto político da atualidade, porque do programa não constava que se ofereceriam taças transbordantes de champagne, ao espumar do qual a eloquência dos oradores se manifestaria magnificamente nas apologias e nos panegíricos bombásticos, porque não era para uma ridícula solenidade de beija-mão que se convidava.

Não haviam repiques festivos de sinos sonoros, nem sons alegros de música, nem tão pouco esteiro de foguetes.

Tratava-se apenas dum homem que viveu no silêncio, quase ignorado de todos, – um louco, como dizia, mas um louco genial que em si só reuniu quase um passado de glórias.

Abriam-se as portas dum tempo silencioso, em vez das dum salão iluminado; preparou-se para os olhos dos convidados um cadafalso triste, entre círios crepitantes, e não uma mesa que primasse pela profusão das iguarias a dos copos; organizou-se uma piedosa peregrinação ao túmulo do poeta, em vez duma passeata estrondosa. E Dalí a ausência imperdoável dos grandes da terra, destes que deveriam ser os primeiros a dar uma lição de patriotismo e de civismo”. [3]

Quando completou dois anos da morte do poeta Sousandrade, o jornal Pacotilha publica uma pequena nota em sua homenagem. Vejamos um trecho:

“A sua obra aí está para provar o seu valor. Aquele que, estudando-a logrará alcançar a convicção de que da geração de Odorico, Gonçalves Dias, Sotelo e outros, o único que até então ainda existia, é digno da veneração e da estima popular.

É preciso que se estude meditadamente a Obra de Souzandrade, do fundador das Escolas Municipais, afim de que as crianças que saírem destas não ignorem o muito que o homem que as alicerçou é merecedor do reconhecimento da Pátria.

Relembrando a data da sua morte, espargimos sobre a sua campa as flores da saudade que nos vai n’alma pelo Vulto que desaparecem e que legou ao Brasil o maior poema americano, desejando que surja, fortalecido por um sentimento do mais elevado patriotismo, a coletânea das Obras de Souzandrade, cuja realização merecerá, certamente, o apoio nacional, pois que virá enriquecer ainda mais a literatura pátria”. [4]

Em junho de 1905 a Oficina dos Novos encaminhou oficio ao subintendente municipal, solicitando para a conservação do jazigo do poeta. Vejamos a resposta da intendência:

“República dos Estados Unidos do Brasil – Intendência Municipal da Capital do Estado do Maranhão, em 6 de junho de 1905, – nº210 – Ao Ilmo. Sr. Astolfo Marques, secretário geral da Oficina dos Novos, – Tenho a satisfação de acusar a recepção da carta que, em nome da associação que dignamente representais, me dirigistes em data de 28 do passado.

Esta Intendência acede com prazer ao pedido que lhe endereçastes, e já providenciou  no sentido da conservação, por mais três anos, no jazigo em que ora repousam no Cemitério Municipal, dos restos mortais do grande vulto maranhense, que se chamou Joaquim de Souzandrade.

Quanto ao projeto que tem em mira essa ilustre Oficina, da ereção de um monumento que perpetue a gratidão dos maranhenses a esse saudoso Patrício que tanto soube elevar o nome da terra que lhe serviu de berço, pela sua muita dedicação e acrisolado amor às letras pátrias, vos asseguro que esta Intendência não será indiferente a esse tentame de patriotismo e gratidão.

Prevaleço-me da ocasião para apresentar-vos minha alta estima e distinta consideração.

Saúdo-vos.

(assinado) O Sub Intendente,

Affonso H. de Pinho” [5]

Em abril de 1906 a Pacotilha publica em sua homenagem:

“Comemorando o 4º aniversário da morte de Souzandrade, uma comissão de operários da Oficina dos Novos foi ao Cemitério Municipal, ornamentando com flores naturais a sepultura do grande maranhense”. [6]

Esta homenagem tocante e sincera da Oficina ao seu presidente Honório vê em evidência os sentimentos altruísticos que impulsionam aquela agremiação, não deixando passar despercebida, a data do passamento do filho do Maranhão que tanto o enobreceu.

[*] Jornalista, pesquisador e professor universitário, autor de vários livros. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com


[1] ReVisão de Sousândrade. São Paulo, Ed. Invenção, 275 p. 1964. Textos Críticos, Antologia, Glossário, Biobibliografia, com a colaboração especial de Luiz Costa Lima e Erthos A. de Souza. Uma 2ª edição revista e aumentada saiu pela Editora Nova Fronteira, em 1982 e uma 3ª edição pela Editora Perspectiva. São Paulo, 2002.

[2] Pacotilha. São Luiz. 20 de dezembro, 1893.

[3] Pacotilha. São Luiz, 1º de maio, 1902.

[4] Pacotilha. São Luiz, 21 de abril, 1904.

[5] Pacotilha. São Luiz, 9 de junho, 1905.

[6] Pacotilha. São Luiz, 23 de abril, 1906.